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Mostrando postagens de junho, 2013

Garganta

Aquilo já me enchia. Encostado na cama e passando desapercebido por canais abertos e fechados da televisão, uma dor de cabeça fraca me atormentava, mas esse não era o problema. O problema era a dor de garganta. Qualquer movimento brusco com os músculos do pescoço era semelhante a uma garrafa quebrada tentando passar com força por ali. Mesmo uma gota de cuspe que tentasse descer pra tentar lubrificar o cu que virou minha faringe parecia com insetos me comendo por dentro. Cansado de doer-me com cada tragada de cuspe, deixei três copos ao meu lado, na escrivaninha. O primeiro, para poder cuspir quando não mais coubesse na boca, escapando de engolir qualquer coisa. Estava na metade, aquela nojeira. O quarto recendia a um odor bocal horrível. Não era mau hálito, precisamente, mas um tipo de cheiro absurdo que se desprega do cuspe quando em contato com o oxigênio. E ele só se mostrou terrível quando minha irmã entrou no quarto, graciosa e atenciosa, com meu reméd...

O movimento sensorial

Sobre Kinema – Grupo Sensus O Grupo Sensus, pelo qual já declarei meu amor confesso em outro texto, retorna ao círculo das artes cênicas com seu novo espetáculo: Kinema. E ‘Kinema’ deriva de cinética (movimento). Tudo torna-se magicamente suspeito e inesperado quando entramos lentamente na tenda, vendados e guiados por um contador de histórias. Pisamos em ovos, pois cada passo é cuidadoso e cheio de medo do tropeço. Um visitante qualquer talvez tenha uma visão bastante concreta do que há naquela tenda ao olhar, e não duvido que tudo seja muito simples. Mas sem a visão, tão determinante no julgamento que temos de tudo, qualquer coisa pode ser qualquer coisa, principalmente apoiada nas histórias contadas – que vai de Da Vinci a Nyx, de Neruda a Caronte, o barqueiro do inferno. Cada pessoa torna-se despida de seus pudores sem poder ver; não sabe conter o sorriso idiota, a caminhada vacilante, as caretas sinceras, os julgamentos mais honestos de todos somente na expressão ...

Toltchok, laranja madura e mecânica

Texto de 2010 Livre adaptação do clássico Laranja Mecânica, Toltchok é parido como um exercício cênico na Praça Roosevelt. Mas isso é papinho modesto. Tudo bem, o grupo é um punhado de estudantes de um curso do Satyros e que, para brindar e provar que algo valeu das aulas, encenaram a referida obra de Burgess. É como se fosse uma apresentação de final de ano da escola, com o perdão da má provocação. Mas mesmo assim, é modéstia achar-se um mero exercício cênico diante da força da história e, pasmei, a qualidade da peça. Falo assim, pois acompanhei, senão de muito perto a preparação de alguns personagens, ao menos colhi suas impressões de muito antes à estreia, e a expectativa era de aplaudir AO MENOS a coragem de aparecer, pois a sensação era de que a peça seria um fiasco senegalês. Mas não estou aqui para expor esses pormenores de pré-produção, não é mesmo? De uma forma geral, o resultado é assustadoramente superior às expectativas criadas – talvez criadas propositalme...

Pobre paulista é o caralho!

Eu já tuitei sobre, mas sempre que ouço Ira! me incomodo. Terminei a Ira de Nasi , biografia do Marcos Valadão Nasi – ex-vocalista do Ira, comentarista esportivo e um cara aparente divertido. Sempre gostei muito do Ira! e comprei a biografia num dia que eu queria ter comprado a biografia do Lobão – não tinha, eu vi a do Nasi; achei uma boa ideia. O livro é bem simplão – achei muito confuso a escolha do Mauro Betting de misturar um pouco a linha do tempo – ora indo muito adiante, ora voltando demais. Também senti que faltou um pouco de habilidade em se aprofundar no rompimento da banda – lá pelo fim do livro, parece que o dono da pena estava com pressa de acabar. No mais é uma boa leitura – super rápida e que expõe os egos e personalidades de uma das bandas mais animais do nosso rock brasileiro, bem como todo o crescimento embrionário do rock na cidade de São Paulo – que sempre teve o estilo como seu bastião, uma vez que é cinza e terrível (=D). O título do arti...

O Estrangeiro, o Deslocado, o Letárgico

Um personagem que se deixa acontecer, quase uma vida letárgica. Li recentemente O Estrangeiro de Albert Camus (até onde parece, o primeiro romance do escritor francês). Livro curtíssimo, extremamente fácil, mas ainda assim bastante claro e latente do sentimento que nos deixa de seu protagonista. Um protagonista que vai até o asilo em que sua mãe está internada para receber a notícia de sua morte e participar de seu funeral – daí em diante, sua volta a Argel, seu romance frio com uma colega de trabalho, sua relação fluvial com seu vizinho até culminar no fato maior do livro que o leva à côrte de justiça. O livro não é sobre uma grande história, de grandes eventos ou mesmo ensinamentos – o livro é sobre o personagem que simplesmente vive, mas que vive quase completamente alheio aos acontecimentos ao seu redor e, principalmente, muito longe de corresponder àquilo que esperam dele (e à certa medida de seu julgamento final, é posto à prova por assumirem que ele simplesmente...

Que profundidade, Zé!

Vou contar aqui uma pequena anedota. Hoje, feriado ocidental, fui trabalhar como tantos poucos. E não achei nenhum câncer ter de trabalhar em feriado – como normalmente não ligo. Existe esse lugar comunzasso de praguejar e imaginar mil coisas boas em que se podia estar fazendo só para chegar à uma suposta triste conclusão: e você no trabalho. Não, não comigo. Não curto lugares-comuns. Claro que trabalhar no Google ajuda, por que eu gosto bastante de ir pra lá e interagir com pessoas absolutamente fantásticas – mesmo em feriados. Não liguei um tostão por ter que ir de hoje e continuarei indo se for preciso. Mas esse post não é sobre isso; chegando em casa, encontrei o porteiro – curiosamente do lado de fora do prédio. Gente boníssima, simpático, do bem. Procurei puxar aquele papo boa praça e escolhe o caminho mais seguro, aquele comentário manjado pra qualquer data festiva. - E o feriado, Zé!? - Trabalhando! - Pô, nem me fale. – retruquei, fingindo desaponta...

Desmistificando a descupinização

O calor escaldante tirou da hibernação inquilinos antiquíssimos do meu apartamento: os malquistos cupins. Não houve reza nem aleluia, simplesmente vieram da madeira profunda comendo tudo e esburacando minhas gavetas – e foi com alarde. De um dia pro outro, simplesmente tomaram as rédeas da escavação pelas paredes e durante a noite, os rangidos da madeira cedendo chegavam a ser audíveis, ainda que minúsculas criaturas de deus. Tal a fúria com que mastigavam. A praga urbana invisível. Sem aquele escarcéu todo em volta da luz, nem um puto se fantasiando de pixel, nada. Se via apenas as asas deixadas para trás por uma nova função e as fezes amadeiradas que se acumulavam de canto em canto. Começo a obra do extermínio diagnosticando pelo Google. Sem dúvidas: eram cupins. E de cupins, o Google conhece – liguei imediatamente para quatro prestadoras: Higitech (que enviou seus operários), Tecnomad (que enviou um biólogo, veja só), DDDRin (que enviou o motorista) e uma outra tal que ...

Ar fresco

Que o ser humano atribua parte de sua felicidade ao desconhecido, ao ainda por vir, ao ainda por se pôr, por se tocar, sentir. Viajar ativa os mais nativos instintos, posto que éramos animais nômades, a febre genética ferve quando tocamos solo sinistro. Todo o cansaço e preocupação (por eventos ou eventualidades da eminência de perder o vôo ou o desespero de não conseguir escolher os presentes) essas aflições são apagadas pelo caminho calmo de um lugar diferente, a fala rápida e enigmática de uma lingua estrangeira, o sorriso curto ou desengonçado de uma cultura diferente. A única certeza sobre as viagens é que, por pior que ela seja, ela já é melhor que a sua rotina. Em conversa longa com a espanhola bonita, no inglês rápido e mocorongo, torna-se aviltante o choque de comportamento entre uma jogada ao mundo e outro colado à cidade. A capacidade de viajar sozinha e a incapacidade de se locomover sem os mais queridos. O embate entre uma coisa e outra; não julgo ser o melhor...

Férias sem alarde, ou a vingança da mente

Texto de 2012 Férias sem alarde. Dezoito dias em que a única conjugação de verbo será a de respirar um pouco. Mas nem de viagens, nem de alardes – saio de férias pra entrar no limbo de onde quero apenas respirar e pensar. Não gosto de alarde, não gosto de reações pontuais exarcebadas – que não sejam por paixão. Férias é outra coisa. Não horizontalizo nenhuma viagem mirabolante, lugares lindos, fotos idem, culinária típica – aquela fúria desesperada de conhecer o máximo possível do mundo. A viagem aqui precisa ser feita pra dentro. Tem pouco tempo que fui a Buenos Aires, onde escrevi Medialuna, para um amor de lá. A natureza da viagem foi essa, a de conhecer, a de não perder tempo com besteirinhas e ver o máximo possível da cidade, dos humores e cheiros. Sucesso. Bom para a mente que dialoga experiências e cataloga memórias e conceitos. Desta vez, farei algo diferente. Não farei nada. Apenas desligarei as máquinas ao redor, desligarei o próprio corpo e deixa...

Arroz Branco, Ovo Branco

Texto de 2010 Fazer o seu próprio arroz pela primeira vez talvez tenha o mesmo valor moral que um homem de neandertal matando sua presa para o jantar. Claro, dispomos de regalias maiores que as de nosso elo perdido, mas o tempo praticamente anestesiou nosso instinto animal e nos enquadrou nessa sociedade fácil. Portanto, hoje fazer arroz é como caçar antigamente, de tão fácil que o mundo ficou. Por ocasiões quaisqueres, acabei ficando uma semana inteira sozinho em casa; sobrevivi os primeiros dias com o resto de arroz que havia sobrado da última leva – jogava uns ovos nuns óleos aqui, umas salsichas outras na frigideira, fugia pra jantar com o Ronald em algumas noites, mandava embrulhar um risotão do almoço noutros dias. Até que eu tive de encarar a realidade: ou eu fazia o arroz, ou o bicho ia pegar, mermão. Passei o dia fazendo perguntas básicas ao chef Google, ele me ajudou, me indicou alguns cozinheiros.com e tudo me parecia fácil. Pipoquei na primeira noite combin...

Vale a pena comprar na Amazon?

No começou de julho, me deparei com uma dessas coincidências da vida: na mesma semana que descobri que tinha um cartão de crédito internacional, soube que dois amigos diferentes faziam compras nos Estados Unidos pela internet. Para quem é fã de literatura, como os leitores do Sanduba, comprar livros no exterior pode ser uma boa ideia, já que livros não pagam impostos. Embalado por essa coincidência, pensei: porque não testar os serviços de compras nos EUA para os cesarianeiros? (Ok, talvez muitos de vocês já fazem isso há muito tempo e eu que sou ultrapassado. Se for o caso, ignorem esse texto!) Fui fazer o teste na Amazon.com, por ser a mais famosa empresa de vendas online no mundo. Minha primeira dificuldade foi, ora, escolher o livro. Nunca fui muito fã das listas de recomedações de lojas online, prefiro passear entre prateleiras das livrarias. No fim, acabei escolhendo “The Demon-Haunted World: Science as a Candle in the Dark”, de Carl Sagan, um livro que eu já li (em port...

Sobre Netflix ou Sobre Como Mudei Meu Modo de Ver TV

Isso não é um post pago. E eu nem pago a Netflix, divido com um amigo meu. E eu nem divido, ele que paga tudo. Mas vou dividir. (Atualização: tenho uma conta própria. =D) Há um tempo que abandonei esse modelo quarentista de televisão, essa coisa de ter horário pra ver seriado, ver novela, ver filme pornô na Band, e ainda por cima ser interrompido, castrado com propagandas no meio (em plena era do éduords, de publicidade altamente segmentada na internet, eu tenho que aguentar carros off-road com poneys; ma nunca que eu sou público desses cavalinhos). A televisão aberta/fechada é toda quadrada, na verdade, só funciona para em eventos Ao Vivo que é onde elas deveriam apostar suas fichas, por que o futuro é on demand, bitch. E dá-lhe Coringão e Formula 1, que sempre me fazem acordar mais cedo ou dormir mais tarde (bem mais tarde né Corinthians). Veja só, eu não tenho tempo nessa minha vida loka, é trabalho, é lavar louça, lavar roupa – e ainda preciso me programar pra ver seri...

Grupo Sensus

Muitas obras, peças, músicas, livros, quadros e afins me encantam profundamente e pelos quais tenho, não somente respeito, mas uma admiração muito grande. O Grupo Sensus atende a todas estas minhas expectativas artísticas e ainda as transcende, pois não me permite apenas contemplar sua arte, mas me transporta para participar e estar, literalmente, dentro da experiência – dentro do palco, fosse um teatro, dentro da música, fosse uma canção, no meio das páginas, no caso de um livro. Algo assim. ‘Sensus’ remete à sensações e as suas ‘performances sensoriais’ já percorreram algumas cidades pelo Brasil sempre recebendo elogios diversos à essa experiência única. Posso falar principalmente de duas performances do grupo: Sensorial e Horizontal. O modelo é o mesmo: você entra na sala, eles te vendam, a música soa e você é transportado aos mundos de Borges, autores fantásticos, textos originais, outros de atores da própria performance. A narração ao pé do ouvido e a estimulação dos cinco se...

O Rio - Melo Neto

Eu que não sou dado à poesia, já avisei mil vezes. Não me venha cantar poesia pro meu canto, eu não entendo, e tem prosa boa demais pelo mundo pra eu ficar horas e horas decifrando verso por verso – caraio. Você gosta, ótimo. Lê ali pro outro lado. Ontem, benquisto domingo, fui à UNESP, faculdade intelectual aqui de sampa ver a adaptação do poema O Rio, de João Cabral de Melo Neto, cabra que conheço só de nome. Uma adaptação malemá dita como um mero exercício para o curso corrente dos moços balangandãs e das minas tchantchantchans. Porra, animal! Me jogou na cara duas coisas: como eu sou fraco pra poesia, e como existem leituras milhares entre um verso e outro, interpretações, visões, figuras, que eu mesmo não me dou ao trabalho de ficar pensando. Mas agradeço a Jesus, aquele senhor no botequim da vida, a ter dado criatividade pra essa galerinha empolgada a fazer uma leitura muito criativa em cima de um poema quiçá longo demais pra eu investir meu tempo (mordi a vo...

That Was It - Michael Jackson Tributo

Creio que a arte seja uma determinada frequência que a criação de alguém vibra e ressoa no mesmo compasso que o do seu corpo. É o que o legado de Michael causa, basicamente. Volto breve do show Tributo This Is It , um show encenado no Teatro Bradesco, do shopping alagado Bourbon. Um show pretexto a ser a encenação do último show de Michael, o mesmo arranjo, as mesmas músicas, as mesmas coreografias. Eu estava descrente com a produção brasileira a alto custo (culpa da amiga que jurou de pé juntos que era a banda original do show com os mesmos bailarinos!) – pensando que veria uma imitação um pouco barata demais. Antes de começar, eu acreditava que a melhor escolha era ter uma banda tocando as músicas, os bailarinos fazendo os passos na frente, mas ninguém interpretando o Michael. É difícil demais essa ideia de alguém ali tentando de alguma forma ser ele. E foi exatamente isso que encontrei: um cover de Michael – mas engana-se, quem acha que não gostei, pois há brilhos giga...

Renascença Musical - Centro Cultural

Acabo de voltar de um recital de música renascentista – em especial o alaúde, aqui perto no Centro Cultural Vergueiro (delícia de lugar, pena que está em reformas). Num canto improvisado de uma biblioteca, armaram filas de cadeiras em estádio, um banquinho, algumas luzes e a mulher com seu alaúde – Fernanda Bertinato. Pra variar, é um assunto que eu não domino e não tenho o menor conhecimento (primeiro de música renascentista e, segundo, de música propriamente dita). Eu ponho isso, pois vou expor aqui de onde me vem esse gosto particular pela música renascentista – exoneração, pois a bem da verdade, nem sei se as músicas que me levaram à esse gosto são, de fato, renascentistas; são semelhantes e por isso comecei a gostar. Veio dos jogos, claro. Duas em particular, eram as músicas que no começo dos anos 2000, eu escutava à exaustão por conta de jogos: Tristram Song, por causa do primeiro Diablo e Stones, por conta de Ultima Online. Fora todo o restante do r...

Bon Jovi, um Show Inesquecível

Morumbi, 06 de outubro. Noite ligeiramente fria, sem nenhuma perspectiva de chuva. Perfeita para um grande show. Sobre o público ou sobre a Fresno ou sobre o Rock Nacional Só havia, talvez, cinco pessoas que durante uns quarenta minutos não compartilharam do clima gostoso da noite: a banda Fresno. Desde que foi anunciada, estava na cara que havia sido um erro, uma tremenda falha da organização. Posso abstrair que, talvez, tenha sido um absurdo otimismo em imaginar que pela incrível disparidade de gêneros musicais, a banda seria abraçada pelo público justamente pela diferença. Nem perto disso. A banda entrou sob vaias, foi vaiada a cada final de música – que a cada uma que terminava encurtava – viu dancinhas irônicas, dedos em riste, xingamentos, costas para o palco; a sensação de ‘vergonha alheia’ se espalhou pelos poucos que, ao final, aplaudiram a banda. Bem poucos. É uma certa burrice da organização não prever esse tipo de reação caipira do público. O público se acha mu...

Gunners

Showzasso do Guns, sinceramente. Claro que a fama do gordo de se atrasar até pra dar um barroso se repetiu nas horas que o público, até paciente, teve de esperar entre as entradas insossas e a canção-título do álbum mítico, Chinese Democracy. E o que dizer da fama de barraqueiro, então? Logo depois do primeiro refrão da música, tomou-lhe uma garrafada e parou o show ameaçando ir embora. E era só o que me faltava. Ele é esperto, a multidão vaiava minutos antes das luzes se apagarem, e logo nos dois primeiros minutos do show, Axl elege um inimigo na plateia e ameaça parar o show por sua causa – o resto do público, cai aos seus pés e ele pode continuar o show sem maiores perigos – pelo contrário, receberia, música a música, souvenirs, cartazes, sutiens e toda sorte de presentes arremessadas no palco. Sua voz não é a mesma, e ninguém, sinceramente, esperava isso – certa feita, ele se desculpa por não atingir a porra de suas notas altas, e quem liga? Viemos ver Rock N Roll ou um concerto...

De Volta à Terra do Nunca

Michael Jackson morre aos 50 anos. Véspera de iniciar uma grande turnê de retorno e ao mesmo tempo de despedida. Jackson é único. Sua história é quase uma ficção, de negro para branco, rosto artificial, comportamento infante e um gênio no que faz – e como a maioria dos grandes gênios, extremamente mau compreendido. Seu fascínio pelas crianças ou mesmo seu comportamento infantil, que lhe renderam dezenas de acusações de abuso, não seria talvez resultado de uma não-infância na qual se dedicava desde os seis anos de idade a ensaiar e a se apresentar com a família dos cinco Jackson ao invés de ir ao parque de diversão, por exemplo? A criação de um rancho chamado Neverland, a Terra do Nunca de Peter Pan, onde as crianças não crescem, não seriam um evidente sinal disso? Repetidamente colocado nos bancos dos réus, apontado como pedófilo e repetidamente absolvido de todas as acusações. Nem suas estranhas plásticas e sua dramática mudança de aparência conseguem se sobressair so...

Há de ser tudo da lei

A Virada cultural reservou para o fim-de-semana paulistano mais de 800 atrações polvilhados em muitos pontos da cidade, mas, de forma majoritária, distribuídas nas ruas do centro antigo – que só parece ficar bonito com as intervenções artísticas do evento. Bonito olhando para cima, as luzes, projeções, dançarinas voando, bandas tocando, pois se ousarmos dar uma olhadela pra baixo: sujeira, mijo, vômito e toda sorte de porcaria. O evento contou com um adendo de emoção nesta edição: o governo de São Paulo, inteligentíssimo, interditou a estação República, coração do palco rock e itinerário necessário para acessar ao menos 10 palcos com mais facilidade. Nem preciso dizer que a solução viária que eles encontraram foi um desastre. Mas esta não será uma sessão ‘eu também vou reclamar’, não. Vou falar de um lugar específico. Havia, certeza, entretenimento para todos os gostos, mas talvez não seja exagero notar que o palco mais honesto e alegre era aquele que homenageava Raul Seix...