Muitas obras, peças, músicas, livros, quadros e afins me encantam profundamente e pelos quais tenho, não somente respeito, mas uma admiração muito grande. O Grupo Sensus atende a todas estas minhas expectativas artísticas e ainda as transcende, pois não me permite apenas contemplar sua arte, mas me transporta para participar e estar, literalmente, dentro da experiência – dentro do palco, fosse um teatro, dentro da música, fosse uma canção, no meio das páginas, no caso de um livro. Algo assim.
‘Sensus’ remete à sensações e as suas ‘performances sensoriais’ já percorreram algumas cidades pelo Brasil sempre recebendo elogios diversos à essa experiência única. Posso falar principalmente de duas performances do grupo: Sensorial e Horizontal. O modelo é o mesmo: você entra na sala, eles te vendam, a música soa e você é transportado aos mundos de Borges, autores fantásticos, textos originais, outros de atores da própria performance. A narração ao pé do ouvido e a estimulação dos cinco sentidos (pois embora vendados, a imaginação nos serve de visão para que possamos vislumbrar as criaturas, as histórias dentro de nossa cabeça) é feita sempre de acordo a nos colocar dentro da experiência – quando o narrador, que nos toca, evoca o vento, vem um vento nos bater a cara, ou a chuva que nos molha, ou o perfume de uma princesa. Tudo está lá. Enquanto Sensorial, você está sentado e a história está em todos os lados. Enquanto Horizontal, você está deitado e a experiência se parece com um sonho.
Me empolgo demais com o Sensus, confesso; conheci através do Mackenzie, em uma sessão fechada. Desde então, se fico sabendo que está na cidade fazendo algo, eu estou lá. Já fui no SESC, já vi no Satyrianas, já indiquei, já insisti pra que fossem, faço o diabo pra que todo mundo sinta. E minha admiração vem justamente por não ter visto falar (visto falar é ótimo, hem, hehe), nem experenciado algo do gênero. Alguma expressão artística que realmente me transportasse pra fora da realidade segura que nos mantém presos enquanto plateia ou até mesmo enquanto leitor, pra nos jogar dentro de nossa imaginação e viver o universo proposto utilizando os nossos próprios elementos.
Somos um povo muito calcado na visão, fazemos juízos de valores basicamente baseado no que vemos. Quando o Grupo Sensus nos tira a visão, nos tira todos os conceitos que temos para nos jogar dentro de nossa imaginação. Forçam de forma bastante criativa a nossa mente que pode ser pega de assalto a qualquer momento. E esse ‘desespero’ de não vermos de onde vem a ‘ameaça’ nos deixa sempre alertas e, principalmente, potencializa todas as sensações – os demais sentidos se aguçam. Não tem palavras, só participando pra ter uma real noção do que é.
A ideia toda veio de Thereza Piffer, diretora da peça e de todos os outros projetos (que podem ser conferidos no blog deles). E tudo começou, veja só o que é a criatividade, por que Thereza não poderia financiar um cenário para suas peças – daí a ideia de vendar o público e deixar que cada um montasse o próprio cenário. Genial. Simplesmente genial. Mulher atarefada, já esteve no Jô, tem mil projetos e é daquelas artistas que a gente sempre imagina que até fazendo um ovo, o ritual é diferente – motivo pelo qual, imaginei que se eu mandasse algumas perguntas por e-mail, levaria anos até voltar (e eu entederia, óbvio). Que nada. Não deu algumas horas e ela, simpaticíssima, me respondeu tudo que quis. Não sou de perguntar mil coisas, e até poderia, mas gosto da objetividade. Faço sempre três perguntas que considero chaves, que são perguntas que eu faria, na verdade, por pura curiosidade:
De onde surgiu a ideia de fazer algo como as performances sensoriais? Isso já existia em algum lugar?
Na verdade a idéia veio de uma “necessidade”. Não tinha muito dinheiro para um evento que fiz e queria “atingir” muita gente. Aliado à isso, meu contínuo incômodo com o crescente descuidado do ser humano para com o outro. vendei o público. O melhor cenário e a melhor iluminação estariam na imaginação de cada espectador. Pra ajudar, bons atores interpretando com todo cuidado e carinho belos textos e ainda provocando sensações já que tinha “retirado” um dos mais explorados sentidos: a visão! Depois só alegria rsrs. Se já tinha visto antes? Não. Foi presente dos Deuses e virou “missão”! Dar carinho. Cuidar de cada um que se “entrega” ao Grupo Sensus em nossas performances.
De onde vem as histórias que os atores nos contam ao pé do ouvido? Os textos são atualizados, trocados, mudados?
Sim, constantemente são trocados os textos. Cada performance traz uma coletânea diferente de textos para o quê se quer atingir. A performance Sensorial surgiu com textos de poetas latino americanos falando do realismo fantástico. Mas existe um cardápio enooormeeeee de possibilidades diferentes por autores, temas ou ainda aqueles textos que são escritos por encomenda e feitos por escritores que pertencem ao grupo.
Quando começaram a fazer as performances?
Começamos na Casa das Rosas em 2005 . Estamos fazendo 5 anos de “existência” com uma nova performance chamada ” Kinema” que devemos estrear nas Satyrianas 2010. ” Kinema”, por exemplo, fala de MOVIMENTO… Esperamos vcs lá!
E eu espero que cada leitor do Sanduba possa ter essa experiência pelo menos uma vez. As performances do Grupo Sensus está entre as experiências mais incríveis que eu já tive em termos de arte, e faço questão de que todos vão. Para isso, manterei NESTE POST um calendário com todos os eventos relacionados ao Sensus, atualizado sempre, claro. Inclusive de outras cidades, não somente Sampa. Assim ninguém perde nada. Espero.
Bruno Portella
Serviço:
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