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1Q84

Pediram pra eu ler. Quem pediu, tinha crédito por ter indicado outras coisas muito boas. Daí eu li. Também já tinha ouvido falar do livro, não lembro quando. Também já tinha visto a capa, não lembro onde.

Tenho usado o Goodreads pra manter um acompanhamento dos livros que voltei a ler e o primeiro caso que criei foi que cadastrei ele como IQ84 e não 1Q84. É diferente. E eu realmente achei que fosse IQ, como se tivesse a ver com quoficiente de inteligência e não com uma data. Logo no começo do livro, entendi que se passava em 1984, então o primeiro mistério eu resolvi: era 1Q84, referente ao ano. Bastava prestar melhor atenção na capa. Mas essa bobagem foi o primeiro momento de abrir a boca e falar sozinho: a, tá!

Burro, você pode pensar. Mas por mim tudo bem. Troquei o registro no Goodreads pensando que eu era mesmo burro.

Daí voltei pro livro.

Gosto de ler livros ouvindo música instrumental.

Nesse caso, como era nos anos 80 e ambientado no Japão, eu procurei uma lista de músicas adequada no Spotify. E achei. Assim entrei mais em contato com o gênero CityPop japonês, que navega um pouco ali no jazz e não sei onde mais. Eu nem gosto de jazz, mas as músicas japonesas que ouvi para ler eram incríveis. Me passava um pouco a impressão das séries dos anos 80 mesmo, aquelas de super-heróis como Jaspion, YuYu Hakusho ou recentes como Cowboy Bebop. Os japoneses são excelentes músicos.

Organizado musicalmente, fui pro livro enfim.

Gostoso demais. Calmo demais. Tranquilo, ele tem o tempo dele. Vai indo que vai.

Dois personagens aparentemente distants lentamente caindo num mundo cada vez mais estranho... ou errado.

Eu gostei muito de como o autor realmente toma seu tempo pra escrever. E vai revelando algumas estranhezas bem discretamente, deixando seus personagens se alongarem no dia-a-dia deles para justamente dar a impressão de que é importante quando a arma da polícia, de repente, não era aquela que se espera.

Nunca li nada do autor, primeira vez lendo o Haruki Murakami. Eu adorei como ele tem frases curtas, mesmo dentro de parágrafos longos. A maioria das vezes, ele é bem direto sobre o que seus personagens estão fazendo ou pensando, mas de vez em quando ele se alonga pra dar uma pincelada mais viva, mais romântica. Acho curioso, e como não é sempre, isso me chamou a atenção.

Todos os personagens, inclusive, são fabulosos ao seu jeito; Tengo é terrivelmente mundano, Aomame já é mais estilosa. E todos os outros caminham de um lado pro outro dessa régua, mas o que mais me chamou atenção é realmente o fato de que se desenrola uma história de fantasia absurda no dia-a-dia mais-do-que-comum dos personagens. Dá um contraste legal.

O mistério, aliás, é fascinante. Eu entendo o autor usar o mistério só para gerar os obstáculos de um amor improvável, mas eu acho impossível não chegar ao final do livro sedento por saber EXATAMENTE como todo aquele mundo realmente funcionava. Conhecer cada engrenagem e motivação. Mas este livro não é sobre isso, e eu acho que entendi. Tudo bem. Mas que eu queria saber, ah, eu queria.

Não sei colocar em palavras, mas eu gosto do jeito que foi feito. Me deixou curioso, mas não me revelou nada. Talvez uma segunda, terceira, quarta leitura revele com mais clareza o que é aquele mundo? Talvez. Eu não saberei. Na primeira leitura, comprendi a força do amor. Achei bonito.

No mais, o livro ressoou forte comigo por alguns motivos particulares: a história se parece em parte com uma em que pensei escrever recentemente. É sempre um calafrio quando isso acontece. Que merda, já fizeram. Mas não é tão igual, talvez eu ainda escreva.

Outra coisa: Aomame sofre pra ler Proust. Ora, eu sofri pra ler Proust. E não terminei (nem ela). E era sofrido mesmo. 

E mais que tudo, no fim eu sorri sozinho e senti um calorzinho no peito refletindo que tinha um pouco de mim e do amor da minha vida ali (oi gatinha, te amo). Os livros são mais fortes quando a gente se enxerga neles, né.

Eu me vi muitas vezes dentro desse 1984. Muito bonito, Murakami.

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