Que o ser humano atribua parte de sua felicidade ao desconhecido, ao ainda por vir, ao ainda por se pôr, por se tocar, sentir. Viajar ativa os mais nativos instintos, posto que éramos animais nômades, a febre genética ferve quando tocamos solo sinistro.
Todo o cansaço e preocupação (por eventos ou eventualidades da eminência de perder o vôo ou o desespero de não conseguir escolher os presentes) essas aflições são apagadas pelo caminho calmo de um lugar diferente, a fala rápida e enigmática de uma lingua estrangeira, o sorriso curto ou desengonçado de uma cultura diferente.
A única certeza sobre as viagens é que, por pior que ela seja, ela já é melhor que a sua rotina. Em conversa longa com a espanhola bonita, no inglês rápido e mocorongo, torna-se aviltante o choque de comportamento entre uma jogada ao mundo e outro colado à cidade. A capacidade de viajar sozinha e a incapacidade de se locomover sem os mais queridos. O embate entre uma coisa e outra; não julgo ser o melhor e pior, apenas o xis e o ípsilon. Coisas diferentes.
Mas te faz pensar. Te faz querer mais, ou pelo menos um pouco mais desse desconhecido – até para atender o urgente grito do que eu acredito ser o nosso próprio instinto trancafiado dentro de séculos e séculos de domesticação social.
Que venha mais portanto, até por que as viagens não só diminuem a rotina, mas como mudam a forma como você a encara – saber que tem outras estrelas girando e vivendo te faz relevar um pouco mais os dramas bobos que damos valor no dia-a-dia.
Bruno Portella