Creio que a arte seja uma determinada frequência que a criação de alguém vibra e ressoa no mesmo compasso que o do seu corpo. É o que o legado de Michael causa, basicamente.
Volto breve do show Tributo This Is It, um show encenado no Teatro Bradesco, do shopping alagado Bourbon. Um show pretexto a ser a encenação do último show de Michael, o mesmo arranjo, as mesmas músicas, as mesmas coreografias.
Eu estava descrente com a produção brasileira a alto custo (culpa da amiga que jurou de pé juntos que era a banda original do show com os mesmos bailarinos!) – pensando que veria uma imitação um pouco barata demais. Antes de começar, eu acreditava que a melhor escolha era ter uma banda tocando as músicas, os bailarinos fazendo os passos na frente, mas ninguém interpretando o Michael. É difícil demais essa ideia de alguém ali tentando de alguma forma ser ele. E foi exatamente isso que encontrei: um cover de Michael – mas engana-se, quem acha que não gostei, pois há brilhos gigantescos nessa brincadeira, que logo de cara, ficou impossível não se dobrar.
O homem que encenava Michael era de um talento impressionante – a imitação tinha ótimos lampejos de brilho e a coreografia era perfeita (claro, impossível esperar que ele tenha a força das quebradas ritmadas do rei ou mesmo a passagem desse ritmo contado para uma melodia corporal suave e antigravitacional). Mas reside aqui o pecado: esperar do tributo que ele seja o original. Rodrigo Teaser, o homem da luva prateada, é de uma fidelidade impressionante – são detalhezinhos bobos que não é nem uma questão de dança, mas puramente de sentimento mesmo, mas declaro que é o mais próximo que alguém pode chegar.
A simpatia do homem é gigante, fala com o público em português e encerra agradecendo a todos por compreenderem essa festa, esse ‘faz-de-conta’ que é feito com muito carinho. Tem problemas? Tem. Tem passo fora da sincronia? Tem. Mas se você vai pra um show, seja ele qual for, e você ficar listando erros e problemas… você realmente não está entendendo direito o que se trata o show.
Por que o show não depende apenas do espetáculo mostrado, mas depende também demais do sentimento que você devota ao que se propos a ver. Eu tô cagando se o bailarino pisou fora da marca, não me tira o prazer de vibrar nos primeiros acordes de Man In The Mirror ou a dedicação com que Teaser se entrega naqueles versos que emocionam todo mundo, porra.
Já disse antes o quanto admiro Michael desde que era pequeno, o quanto eu gostava de sua figura, e de como a morte dele foi triste (artigo velho). Primeiro, por que pra mim ele era um puta ser humano do bem, extremamente maltratado por quem vivia com ele, talvez incompreendido. E principalmente, o que esse ser humano deixou pra todos que gostam de música e dança.
Ou que simplesmente sabem apreciar a arte. A arte quando é feita com paixão. E se você não sente, não é arte porra.
Porra que hoje eu senti. Vibrei.
Bruno Portella