Eu já tuitei sobre, mas sempre que ouço Ira! me incomodo.
Terminei a Ira de Nasi, biografia do Marcos Valadão Nasi – ex-vocalista do Ira, comentarista esportivo e um cara aparente divertido.
Sempre gostei muito do Ira! e comprei a biografia num dia que eu queria ter comprado a biografia do Lobão – não tinha, eu vi a do Nasi; achei uma boa ideia.
O livro é bem simplão – achei muito confuso a escolha do Mauro Betting de misturar um pouco a linha do tempo – ora indo muito adiante, ora voltando demais. Também senti que faltou um pouco de habilidade em se aprofundar no rompimento da banda – lá pelo fim do livro, parece que o dono da pena estava com pressa de acabar.
No mais é uma boa leitura – super rápida e que expõe os egos e personalidades de uma das bandas mais animais do nosso rock brasileiro, bem como todo o crescimento embrionário do rock na cidade de São Paulo – que sempre teve o estilo como seu bastião, uma vez que é cinza e terrível (=D).
O título do artigo faz menção à famigerada música ‘Pobre Paulista’. Composição de Scandurra ainda quando tinha 17 anos com clara e evidente teor preconceituoso com todos que não fossem… paulistas.
Diz ele que com 17 anos ficava irritadíssimo com toda a invasão da música baiana, da MPB e aí compôs esse clássico. Conversa pra boi dormir – a mesma que diz que a ‘gente feia’ são os políticos. Ahã.
É um dilema terrível, pois eu sempre, desde que aprendi a raciocinar textos, busquei desculpas pra gostar da música (por que ela tem uma levada rock animal, versos ótimos, e um refrão extremamente cativante).
Mas é notório que isso aqui é mega errado:
Não quero ver mais essa gente feiaNão quero ver mais os ignorantesEu quero ver gente da minha terraEu quero ver gente do meu sangue
Que isso, Scandurra. Quase nazista. Dá pra desculpar um moleque de 17 anos por isso? Penso que se releve – quando ele tem 17 anos. Mas ninguém tem 17 anos mais – é um expediente desnecessário cantar um discurso erradíssimo – ainda que se levante qualquer tipo de defesa da letra (aludindo o verso aos políticos, figurinha fácil de qualquer crítica).
Não concordo em nada com esse verso, mas assino embaixo todos os outros que têm uma força de rebelião que pode ser aplicada para tantos assuntos absolutamente errados não só na minha cidade, mas em qualquer lugar.
O que eu não quero ver é ciclista morto, não quero ver falsa gentileza, adoraria ver os concertos a céu aberto, eu quero ver é gente se atracando – soul hippie pervertido talvez.
Tanta coisa errada pra se cantar nessa cidade, mas tanta. Scandurra perdeu a chance de escrever uma música anacrônica pra fazer um clássico calcado no preconceito – mas não se cobra de alguém com 17 anos que se faça um clássico; principalmente do Rock.
Pobre paulista é o caralho, não por essa ‘gente feia’, pelo menos. Tenham pena, por que matamos nossos ciclistas, estupramos nossas crianças, assaltamos nossos trabalhadores, pagamos a vida em nosso aluguel.
Penso que pobre paulista é aquele que acaba vindo pra cá. E desculpa qualquer coisa, mano.
Bruno Portella