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Gunners

Showzasso do Guns, sinceramente. Claro que a fama do gordo de se atrasar até pra dar um barroso se repetiu nas horas que o público, até paciente, teve de esperar entre as entradas insossas e a canção-título do álbum mítico, Chinese Democracy. E o que dizer da fama de barraqueiro, então? Logo depois do primeiro refrão da música, tomou-lhe uma garrafada e parou o show ameaçando ir embora. E era só o que me faltava. Ele é esperto, a multidão vaiava minutos antes das luzes se apagarem, e logo nos dois primeiros minutos do show, Axl elege um inimigo na plateia e ameaça parar o show por sua causa – o resto do público, cai aos seus pés e ele pode continuar o show sem maiores perigos – pelo contrário, receberia, música a música, souvenirs, cartazes, sutiens e toda sorte de presentes arremessadas no palco.


Sua voz não é a mesma, e ninguém, sinceramente, esperava isso – certa feita, ele se desculpa por não atingir a porra de suas notas altas, e quem liga? Viemos ver Rock N Roll ou um concerto de Ópera? Rock, e de rock Axl e seu novo Guns entende. Fez levantar um público que Sebastian Bach precisou implorar que pulassem, que cantassem, que balançassem os braços com seus pequenos clássicos do Skid Row. Os clássicos gunners, inclusive, estavam todos lá e as boas músicas do muito-longo Chinese também. Destaque para os ‘solos’ que geralmente são insuportáveis masturbações dos músicos em cima de seus instrumentos, aqui não, cada solo precede uma grande música e cada solo é em cima de um tema, ora Pantera-Cor-de-Rosa, ora uma insinuação de Run To The Hills, do Maiden e então até Another Brick in the Wall cai na voz do povo.

O espetáculo tem telões bonitos, sets de fogos empolgantes (incluindo um absurdo fogo de artifício que estourava DENTRO do palco), luzes, papéis picados, explosões – tudo que um bom show de Rock precisa ter para que a plateia se veja em uma catarse explosiva – não é esse o objetivo de um concerto de rock? Extravasar os fantasmas, pular, berrar, sair acabado e de alma lavada do estádio? E eles conseguem. Como poucos.

Muita gente cai naquele clichê patético de ‘cover de si mesmo’, cópia mal feita, Axl perdeu a cabeça, sem o Slash não é a mesma coisa – e acertam só na útlima. Claro que sem o Slash não é a mesma coisa. O que não significa que essa nova coisa não seja boa. Os novos caras são demais e tocam muito, e mal sentimos falta de Slash – talvez de sua cartola, seu cabelão e seu cigarro contra-gravidade. Não que eu não goste de Slash, nem que não gostaria de vê-lo com Guns novamente, mas é fato, os caras tocam bem os clássicos e não consegui ver ninguém reclamando disso durante o show.

Vou além. Eu vi o show do Velvet quando abriram pro Aerosmith: insosso e chatíssimo. O que só prova que aquela trupe toda do Velvet (que são todos ex-Guns, convenhamos) só funciona se tiver um ruivo de bandana dançando em cima deles e gritando. Já o oposto, o ruivo gordo de bandana parece funcionar com qualquer um que toque atrás dele.

Mas eu não sou nenhum big-fan de Guns, nenhum entusiasta, xiita, fanático (daqueles que se vestem como ele, cruzes). Só constato o que vi: Slash sem Axl não funciona, Axl funciona sozinho correndo pelo palco, dançando e mal conseguindo gritar. Como vou explicar?

Dá uma olhada nesses vídeos em HD e se pergunte se tem alguém ali dentro que ficou parado.

Isso que é show. Isso que é show de Rock, meu caro.

(Vou cometer o pecado de ter gostado mais da plateia do Guns do que a do Maiden. Em termos de animação. E olha que eu amo Maiden, e apenas gosto de Guns. Triste.)

Bruno Portella

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