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Kerouac

A peça relâmpago “Kerouac” trouxe os últimos dias do ‘rei dos beats’ (que uso só por provocação a seu espírito), para o palco do Centro Cultural São Paulo – Vergueiro. Encarnado e muito bem encarnado por Mário Bortolotto. Peça ligeira, ágil, louca, dura pouco mais (ou menos, não lembro bem) de uma hora de duração. Pena.

Só tem Mário no palco como Jack, mas ele somente já enche a cena com sua interpretação empolgante, empolgada e viva; traz à história algumas memórias, que pouco importam se reais ou não, mas que habitam o universo dos livros do autor, e alguns personagens como Ginsberg, Burroughs e o seu grande amigo Neal Cassady (o famigerado Dean Moriarty em On the Road). Sempre em sua cabeça. Em seus xingamentos. 



Ambientado no quarto da casa onde mora com a mãe doente, Jack (arrastando uma das pernas) se rememora e sofre atormentado pelo passado e pela condição estelar do momento em que se encontra – fãs tocando sua campainha, entrevistas, envio de originais, alguns de seus fantasmas. E o curioso na peça é notar como a fala de Bortolotto em muitas vezes é um discurso furioso, energético e de pouca respiração como se Mário simulasse, com sua interpretação, a escrita urgente e automática de Kerouac.

Pontuada em muitos momentos pelo blues, jazz (que tanto embalou Sal e Dean na rota 66) a peça finaliza em uma das cenas mais energéticas da noite, à luz de velas, à fúria do autor/ator e ao som de Like a Rolling Stone de Bob Dylan (se meu conhecimento de rock não está de todo embananado, é claro).

Ao final, os efusivos aplausos não são somente pela peça, é evidente. Bortolotto sofrera a pouco tempo um terrível atentado ao ser baleado no espaço dos Parlapatões da Praça Roosevelt e ficado um tempo na UTI por conta dos ferimentos. E, sem dúvidas, é empolgante ver um homem se recuperar dessa forma e ainda entregar, como sempre deve fazer, uma atuação de quem é apaixonado pelo que faz. Naquela brincadeira dos caixões, Kerouac deve ter se remexido – mas apenas por conta do jazz.

Blogue de Mário: Atire no dramaturgo

Bruno Portella

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