Um ônibus cheio de cheiro imundo de gente. O suor de pele sem um toque de água há dois, três, quatro ou cinco dias. Escolhi a janela, é claro; vento andorinha, paisagem rolando, vomitilhos envelhecidos e a saída de emergência dessa bruma de mau odor. Na mão segurava o troco do livro e do bilhete. Sentou do meu lado, sempre vazio, um policial de farda cinza: esbelto, altivo de quepe bem alinhado. Metia presença e temor perto dos desempregados que breve seriam mortos por seu cacetete ao menor furto à madames, ou ejaculando nas árvores, ou qualquer coisa assim. Sentou do meu lado sem palavra e consciência, guardou sua maletinha de cabeças no compartimento de cima, recostou e olhou o vazio dos três centímetros de estofado surrado no assento da frente. Percebi a coronha forte e ameaçadora da arma. Do meu lado. Engatilhada para seu único suspiro vivo: o do tiro - aquele que precede, talvez, a morte. Encolhi-me no canto e fechei os olhos com força, de tanto medo de tomar aquela a...