A cozinha é um cômodo incômodo, senão apenas incômodo de fato. O fogão, principalmente, um mistério - essa coisa do fogo e principalmente sua relação com o homem; tão pré-histórica, determinante, e ainda assim um mistério sobretudo. É verdade que complicamos (ou aperfeiçoamos) o preparo - inventamos salsas e temperos, tempos corretos, misturas rocambolescas.
É raro me aventurar, mas é sempre uma aventura divertida. Por isso repetida com parcimônia - embora reze o testamento que deveria ser mais frequente. Veremos.
Dessa vez, no entanto, apresento minha mais nova criação: o Beef ao Contra-Molho duSaucisse. Aos ingredientes portanto:
Um molho simples de tomate, salsichas tenras dessas que dão um ótimo cachorro-quente, um certo arroz parboilizado no saquinho e bons contra-filés pra rebater a secura dos grãos.
O Arroz
O arroz é esse costume tão brasileiro, parte de um certo inconsciente coletivo da culinária nacional - arrisco até mais que o feijão, que tem mais o nosso gingado. Ainda tenho avenidas pra conseguir fazer um bom arroz sem recorrer à esse saquinho desalmado. Mas eis que não há retorno mais, portanto em vinte minutos, o tio Ben está pronto pra ser rasgado e servido.
O segredo aqui (e mais adiante, aliás), reside no tempero; e separo um parágrafo para agradecer aqui a sensacional Iara Silveira, hobbit que carinhosamente me presenteou com um frasco de ervas para dar um sabor a mais em toda comida que eu venha a fazer - depois de ter visto o papelão que ficou meu sanduíche de atum. Basicamente o frasco dá +2 de Finesse, +5 de Sabor e ainda aumenta em 25% meu XP ganho em Cooking. Recomendo!
Arroz temperado! Ele ganha essa aparência salpicada de pontículos que parecem dotar de mais seriedade o preparo dos grãos.
O Contra-Molho duSaucisse
A improvisação é uma arte - e ela está presente em muitas manifestações da mesma; inclusive na culinária (que ainda procuro uma boa definição de onde a arte está presente, não se nega, no entanto jamais, a presença da improvisação). Provado já que meus molhos para meus macarrões não funcionam direito, me sobra sempre potes e potes dessa sangria de tomates.
Decidi juntar o inútil ao agradável: pois se salsicha é feito de papelão, oxalá esse milagre cristão que transforma jornal em aperitivo - e nesse caso, metamorfoseado em ingrediente máximo desse molho transado.
Olhe como fica bonito, arreia que o vermelho é mesmo a cor da culinária.
O Beef
Untar a frigideira com seu melhor azeite e deixar alguns minutos que sejam essa carne vermelha ir lentamente se transformar nesse pedaço de mau caminho - um tempero de sal simples mais as salvas da plantação Hobbit que transformam qualquer ensopado em iguaria.
A combinação do fogo, do azeite e da carne se transformam tão rapidamente que é como a paixão - que arma um escândalo no toque e lentamente arrefece pra viver de um prazer intenso da carne.
O alinhamento cósmico na cozinha se dá nessa constelação de prato-feito, de tarefa-cumprida - faltando, por tietes estéticos a disposição das partes e das porções em um único substrato - como um conjunto de ideias que se harmoniza em um mini-conto.
Pois eis aí: senão o fruto de minha única poesia, a culinária. Tão torta e canhota, e ainda assim honesta e sincera - assim como a poesia, talvez apenas degustável por seu criador.
Bon apettit!
Bruno Portella