- Quanto tempo estamos aqui?
- Uma lua, quase.
- E quando vamos sair?
- Quando aquela árvore parar de olhar pra cá.
- Mas eu tô precisando aqui…
- Ora, faça aí mesmo.
- Mas ela tá olhando!
- Que mal tem a árvore olhar?
- A última coisa que quero é ofender essa árvore.
- Ofendida com o quê? Ora, tire logo essa luva e faça logo. E vê se não respinga pra cá.
- Óquei. Ela ainda tá olhando?
- Não. Tá de lero com uma flor.
- Rubens?
- O próprio. Ei. Ela tá de olho de novo. Já terminou aí?
- Já.
- Põe a luva!
- Desculpa.
- Olha, ela vai tirar um cochilo… vai dormir.
- A árvore?
- Sim.
- No sete a gente sai, tudo bem?
- Claro.
- Um.
- Mas ela tá dormindo mesmo?
- Dois.
- Responde!
- Sete! Vamos.
- Calma!!! Olha!
- O que foi?
- Ali no canto.
- Que que tem?
- Ó lá, a gazela do bico de pato.
- E daí?
- E daí que ela tá olhando.
Bruno Portella
|foto de Diógenes Muniz