À brasileirinha que lia A Insustentável Leveza do Ser do Kundera no café La Poesia da garçonete mais linda desse planeta; em San Telmo, Buenos Aires no dia 10 de Julho às cinco e quarenta três: escrevi um verso de Cortázar em espanhol no guardanapo com a certeza de que você era porteña.
Cortázar dizia:
Y sé muy bien que no estarás.
No estarás en la calle,
en el murmullo que brota de noc…
Cortou o Cortázar, pois levantou-se à la cuenta em que deixou uma generosa gorjeta à moza especial. E se foi me arrebentando deixando escapar a capa da mesma versão que eu tinha do Kundera, ainda virgem em casa. Fiz o verso do fim que vinha mais à ocasião e ficou o resto na mesa
No estarás para nada,
no serás ni recuerdo,
y cuando piense en ti
pensaré un pensamiento
que oscuramente
trata de acordarse de ti.
Foi o que deixei de gorjeta pra garçonete que continuava lindíssima después do meu desencanto.
Bruno Portella