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O Fantasma da Ópera (2018 — Teatro Renault)

Lindíssimo.

O musical chegou de volta e está lindo.

Vi no dia 11 de Agosto, sessão das 16h, com Thiago Arancam de Fantasma e Giulia Nadruz como Christine (alternante).


Fico chocado como todos são inacreditavelmente afinados em todas as músicas ao mesmo tempo que deixam a emoção influenciar a canção em diversas vezes. Sério, eu num manjo nada de música, mas eu fico realmente admirado e muito impressionado com a capacidade vocal desses atores de musical. É incrível.

Consegui pegar um lugar bem perto pela primeira vez no Renault e é fabuloso poder ver os detalhes dos figurinos, dos cenários e principalmente a expressão facial do elenco.

A montagem é linda. Do que eu lembro da versão de 2004, me parece que o cenário tem elementos maiores (como o camarim com espelho da Christine, a escada do carnaval). Os efeitos pirotécnicos são fortes e o lustre um charme à parte do primeiro ato. Sua queda me parece bem mais intensa que aquela de 2004 (mas pode ser a memória e o lugar, haha).

A teatralidade intacta! Num tem uma projeção, um telão, absolutamente nada que não sejam panos e truques de cena e é isso que eu acho incrível no Fantasma (achei um pouco sem graça os telões e o lustre do especial de 25 Anos). A montagem do Les Miserables trouxe vários truques de projeção (que são legais), mas eu adoro que o Fantasma seja justamente uma montagem que se apoia apenas em truques práticos de cena (e há vários momentos em que nos surpreendemos com o que acontece); eu gosto disso porque o personagem do Fantasma é um engenheiro de espetáculo, de truques e artimanhas. Gosto que a peça reflita essa criatividade do seu personagem central. É foda!

Do elenco, achei que o Piangi (Cleyton Pulzi) precisava ser mais gordo; o comentário do Fantasma sobre o peso dele durante Cartas II num faz muito sentido se ele está no peso, hehe. Embora essa crítica pareça absurda, é só um detalhe. O moço canta muito como Piangi, mas lembro do Piangi de 2004 (Fernando Palazza) ter um vozeirão mais poderoso (inclusive mais poderoso que o Piangi do filme e do 25th Anniversary).

A Carlotta da Bete Diva canta muito, também, mas a memória que tenho da Edna D'Oliveira era de que ela rasgava o teatro cantando de tão forte que era (inclusive, se não me engano, ela chegou a desmaiar em uma das sessões e precisar ser substituída pela alternante (!).

A Christine estava maravilhosa e o Raoul também; incríveis e lindíssimo.

Thiago Arancam como fantasma não deve nada durante músicas ao Saulo Vasconcellos (2004), as músicas ficam maravilhosas, fortes e leves quando precisam na voz dele. Mas senti muita falta da atuação do Saulo em alguns pontos. Aliás, dos fantasmas que eu já vi algumas cenas, o Saulo é um dos únicos que sai da música para interpretar certos pontos muito dramáticos.

Sobre a letra e interpretação, serei mais detalhista que o normal, porque eu sou tonto e ouço demais Fantasma, haha.

A versão das músicas é a do Claudio Botelho, a mesma de 2004, mas eles fizeram pequenas alterações nas letras de algumas músicas. Algumas alterações são boas, outras não. Algumas deixam mais claro a intenção da letra e melhoram, mas outras eu achei uma simplificação muito desnecessária do português.

Sobre interpretação, me incomodou (só porque eu estava acostumado demais com a versão do Saulo), a falta de uma interpretação não-musical em alguns versos da música. Exemplo na cena final no covil do Fantasma, ao final trieto, o Fantasma canta:

You tried my patience
Make your choice

O 'Make your choice', que no Brasil vira 'Faça sua escolha', alguns Fantasmas fazem cantando dentro da melodia da música; Saulo não, ele realmente falava com força e alto, mas não em canto. Dava um senso dramático muito forte.

Assim como na cena mais linda pra mim, que é no final, quando, depois de Christine beijá-lo, ele decide soltar os dois e entre os versos do coral, ele ordena que vão embora e levem o barco, até um último verso derradeiro:

Go now and leave me!

O fantasma do Butler canta essa parte e eu poderia vomitar tamanha indiferença que ficou. O Crawford, na gravação de 86 solta um grito lancinante maravilhoso; Saulo sai da música e parece gritar de dor essa fala, é lindo. Arancam canta também, embora tenha muito mais coração que o Butler, e não ficar tão ruim assim, eu ainda senti falta da sinceridade que é um grito fora da canção nesse momento (que é praticamente o último).

Detalhes muito pequenos que só quem fica ouvindo essas coisas toda hora reparam, eu nem sou especialista de nada, haha. E não atrapalha o entendimento do sentimento necessário das cenas. E nem sei se é uma escolha do cantor, ou uma imposição da direção.

Enfim. É lindíssimo. Quero ver mil vezes mais, principalmente de perto, pois é incrível como todo mundo está fazendo mil coisas, mesmo quando estão no fundo do palco. E dá vontade de ver tudo, mas não dá pra focar em tudo, haha.

Puta produção, qualidade altíssima da montagem, competência vocal de tirar o fôlego do elenco (aliás, eu fico bem impressionado com a qualidade do som, da mixagem ao vivo); as composições dispensam comentários, porque são todas maravilhosas.

Enfim. Vale a pena cada centavo.

Quero ver mais vezes.

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