(O amigo Felipe Zacchi lançou um álbum musical. Preparem-se!)
Certa vez, voltando do show do Casa das Máquinas, eu comentei com o Zacchi que 'Cilindro Cônico', uma das músicas mais incríveis do Casa, era um nome muito bacana para banda. Aí ele ficou nessa de formas e chamou de Trapézio o projeto musical dele. Nem sei se foi por isso, mas eu vou dizer que sim. Trapézio esse que ele lançou finalmente. Sério, finalmente.
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Ab- é um álbum complexo. Eu mesmo não entendo direito, não; o Zacchi diz que não há o que entender, é pra sentir. É mole? Mas ele tem razão. Eu não estou acostumado com músicas que eu chamo de tortas, estou acostumado com o Chrystian & Ralf, Raul Seixas. Tu pega um violão e sai cantando as coisas tudo.
Ab- é um outro tipo de experiência musical. Dos mais interessantes. Não tem uma música que eu vou tocar no meu violão, mas não conseguiria jamais com meu violão recriar os muitos climas que o álbum toca. E por isso é uma puta experiência musical. Que eu mesmo não estou acostumado, e por isso é tão legal: é novo, fresco, diferente.
O Zacchi é um maestro. E louco. Desde que eu conheço ele, ele faz aula de piano e pega as mina tudo tocando violão. Pois bem, sempre quis ouvir algo criado por ele. Porque é um amigo. Eu nem sei se ele toca bem mesmo; ele diz que sim, mas nem faz diferença. Eu gosto e sou muito curioso pra experimentar as expressões artísticas dos meus amigos. É louco: você conhece a pessoa, então é um processo muito daora ver o que ela criou.
Como foi esse Ab-.
Não conheço tão bem o Xuxu (a dupla do Zacchi nesse Trapézio), mas não consigo deixar de reconhecer em todas as nove faixas, a mente do barba em todas. Parece que cada música do álbum eu já ouvi de alguma forma antes, de tanto ele buzinar o nosso ouvido com melismas, faixas, riffs, mostrando músicas, cantarolando, batucando nas coisa tudo. O que prova que provavelmente o Xuxu é louco igual. Se acharam.
E nessa versão final, temos o estágio final dessa loucura.
Porque o bagulho é louco.
Quero e vou ouvir muito mais desse Ab- e indico aqui a todos que parem seus dias e dediquem uma noitinha para escutarem as nove músicas, que eu sei do trabalho que deu pro rapaz. Eu mesmo não sei se entendi, mas como ele falou, eu senti.
Um puta orgulho do Felipe Zacchi.
Música a Música
5'
Muito bonito o piano respondendo pro violãozinho no começo, nem sei se é isso, mas parece. Climão escuro, dramático, simplão. A voz do homem suavinha. Tem um clima de flutuação no começo. E depois um vôo mais rápido quando a banda toda acorda na música. Claro, a música tem mesmo cinco minutos, mas parecem mais.
Ab-
Pianinho melancólico. É a cara do Zacchi o pianinho melancólico. Gosto. Aqui também parece rolar um piano contra violão, junto; uma coisa de conversa, fala um, depois fala outro. E no meio da conversa, o louco começa a sussurrar de todos os lados e música parece que descarrilha em loucura até voltar quando a banda acorda de novo. Um vai-e-vem do louco. Eu num entendo nada. Nem o título da música; perguntei pra ele se era tipo sanguíneo, o que recebe de todos. Disse que não. Sigo sem saber.
Alguém
Esse violão sofridíssimo é muito bonito, gente. As vozes também são. Aqui dá vontade de cantar junto da dupla, embora as linhas sejam bem diferentes (e tem um instrumento de sopro soprando notas estranhas). Não entendo. Mas aqui parece que a dupla acordou e tá correndo seguindo um violino bonito (é violino?). Parece violino. Alguém-quem? Eu num sei não.
A primeira trinca é estranha. Tem essa coisa do violão e do piano conversando, e tem também a impressão de flutuação que vira vôo, que vira despertar. Talvez um sonho. Mas é estranha. Como são os sonhos, às vezes.
Em Aberto
Gostoso esse sonzinho sintetizado. Melhor ainda o baixo eletrônico, esse climão noir ótimo. Me lembrou o Limbo; sombras e luzes estranhas, muita silhueta. Ainda que lembre também o clima descobridor de FEZ. Mas a imagem de um jogo muito criativo e de excelente trilha-sonora me vem imediatamente à cabeça. Não sei o que está em aberto aqui, mas a impressão que me fica é de que qualquer possibilidade está. Como um jogo.
Passo Limite
Parece uma continuação do que se abriu anteriormente; exatamente como se fosse a próxima fase do jogo. Se liga no riff de piano da música e me fala se não tem um personagem simpático andando de lá pra cá? Um jogo cooperativo, tem o Zacchi e o Xuxu pulando plataformas. E morrendo de modos dramáticos. Não sei que limite é esse do passo. Pode ser uma queda, né.
Refórmula
Bom, no começo eu só consigo pensar que o Felipe Zacchi realmente enlouqueceu. Continuamos dentro desse jogo maravilhoso que eu preciso jogar; estou pensando nos motivos do porque eu acho legal parecer um jogo: e acho que tem a ver com o fato de que jogos são legais porque participamos daquele mundo. Essa é uma trinca que eu gostaria de estar dentro. Principalmente quando quebram a estrutura, e tudo fica quebrado na música mesmo. Esse é o único momento que eu sinto que entendi o que fizeram: o homem diz 'quebra a estrutura' e a música fica toda louca. Rá. Captei! Por isso refórmula, muda, sei lá. Aqui eu entendi.
Esse trecho é um universo curioso, misterioso, noir, interessante, um mundo próprio muito doido que eu adoraria visitar. Sintetizado e estranho.
Quebro
O piano voltou! Todo tenso enquanto os outros instrumentos parecem acordar aos poucos. Que loucura, será que é isso? Não, a música chama Quebro. Tá tudo quebrado, burro. Eu ainda tô com essa coisa de sonhar, de acordar na cabeça. Opa, que virou rock. E o rock acabou em sons, a música tá quebrada mesmo.
Seco
Esse é o clássico do álbum. Dá vontade de pegar a guitarra e tocar o riff do começo, até tentar cantar, embora falte a loucura necessária ("pra não enlouquecer", já mandei junto). Que meiúca gostosa e suave. Bonita essa, hein. Num sei se tem a ver, mas é seco porque é simples: é boa. Foda. Bicho tá seco.
Derreto
Parece um epílogo a música. Seco é o clímax. Aqui temos vislumbres do futuro, um até logo. A música inclusive tem cenas pós-créditos com um pouco mais da loucura da dupla trapezista. Que malucos da porra.