O hambúrguer. Invenção moderníssima da culinária (eu chutaria meados do sonho americano dos anos 50, talvez o único resquício daquela época). Em termos daquele que vive sozinho, a praticidade é ótima, o tempo: razoável, apenas o preço em que a simplicidade do prato não sustenta tantos dilmas por um bom burger.
Ainda assim.
A noite abranda calma, fria - imagine lavar panelas nessa água petrificada ou muito pior: enxaguar os pratos à beira da madrugada. Jamais - um pecado com o prelúdio do sono, dos sonhos. Não é justo. Eis aí a janela do pedido, tudo que é necessário para cairmos à tentação do bom hamburguer noturno.
O pedido clássico comprende o Cheese Monsterburger (sou simples), batatas smilleys e uma maionese à parte.
O burger já acompanha maionese, veja bem, mas a arquitetura do pão aliada às forças da física fatalmente desperdiçam grande quantidade desse molho perfeito, enquanto partes do lanche permanecem secas (pecado que remete à dois problemas: o hamburguer que poderia ser mais suculento e é claro, o desenho do hamburguer que não balanceia o nível de maionese em seu projeto - que é muito mais um mistério culinário do que arquitetônico). Daí o pote extra.
A batata, por sua vez, é oferecida em três estados: frita, cascada e sorridente. Vai por esse solteiro: embora seja tentador pedir fritas ou até mesmo estiloso aquelas com casquinhas, é justamente a despretensiosa Smilleys que servirá melhor: meramente pelo fato de que ela resistirá com mais bravura à madrugada e poderá oferecer um ótimo aperitivo no dia seguinte (lembre-se, aquele que vive sozinho, planeja seu delivery para que dure, ao menos, duas noites).
Esse prato também é adicionado algumas fatias de presunto (que tão bem combina com o queijo dando esse ar bauruense para o monstro).
Salpique de vez em vez um tanto de maionese para cada mordida e você estará feito.
Combina lindamente com chás gelados (eis aí minha preferência pelo Matte), mas usualmente é bem dissolvido pela Coca-Cola também. O monstro também oferece ao glutão uma janela de meia-hora pós-ceia em que o corpo entrará em um torpor facilmente revertido ao sono - aproveite.
Uma alimentação longe de ser ideal, ainda assim extremamente inserida em uma época de urgências - o devoro não dura mais que dez minutos e a fome certamente não aparecerá pelas próximas sete/oito horas dependendo do seu próprio corpo.
Essa é a dica. O hambúrguer monstro (que não é assim um dragão de difícil) será um bom companheiro nas noites de fome - a última dica, como se eu me importasse, apenas tenha parcimônia na sequência dos pedidos, não por sua saúde, mas para não deixar esse bom pedido cair em uma rotina que fatalmente tirará o bom sabor de devorá-lo.
Eis aí.
Bruno Portella