Um cineasta maldito no coração de São Paulo, sem freio algum não tem freio, curte droga, buceta, cu, suruba, e pensa muito pouco além de si mesmo. É isso, o livro é esse cara e as peripécias dele (po, tudo mundo diz peripécia agora, vou usar também). Do começo ao fim. Feroz. Sobre Zé Carlos, esse abranche de nome caipira, e suas malquistas experiências da Augusta ao interior praiano. Foda, vale a pena ler demais – isso se você não for muito dado a sentimentalismos baratos, o cara vai direto ao ponto, sem rodeio, sem acentuação, sem merda nenhuma. É tudo vomitado na sua boca – o cara te passa o arquivo por e-mail no final do livro, como prometido, mas fica o livro todo vomitando na sua boca.
Amigos próximos leram e acharam foda demais, assim de gritarem na rua, e me chacoalharem dizendo: tu precisa ler, guri. Até é parecidinho com esses textinhos que você faz. Que isso, me respeita.
E eu escrevo igualzin o cara, nuossa.
Ponto que de cara eu já achei foda. Identifiquei, sabe. (E to achando que to escrevendo ainda mais – só não sou tão bocudo, acho). Eu esperava algo na pegada no Bukowski, mas sabe que gostei mais que o escroto do Buk? Acho o Bukowski muito forçadão ãs vezes, muito admirado de si mesmo – ui, olha como eu bebo, mas é louco, foda, curto o Chinaski. O Morais não, não transpira essa coisa toda de ‘sou fodido, mas sou foda’. É toda hora, ‘sou fodido, e continuo fodido’. É sincero, o cara fala a minha língua, literatura moleque, da várzea, é como bater um Fifinha com os amigos e falar um monte de merda de todas as mulheres que a gente já comeu. Po, é isso!
Essa literatura mais jogada, vomitada, sem muito compromisso com o ‘departamento de literatura universal’ (retirado da folha de orelha, curti isso, vou usar também), e sim e ferocidade dos acontecimentos – e é louco como ele faz parar tudo só pra dar uma mijadinha, antes de continuar – me fizeram ficar vidrado e devorar ele em pouquíssimas semanas (considerando, por exemplo, a tarefa maldita de ler o Proust que não consegui em dois anos).
Gosto de livro assim, rápido (e são 480 páginas amice, não é assim também um gibi), leggero!
Acho a primeira parte mais incrível que a segunda (não tem divisória, mas pra mim tem: a primeira parte: São Paulo, segunda parte: Ubatuba). A segunda parte pega essa malemolência da enseada, mas ainda assim é bom o bastante pra ser melhor que muita coisa que eu tenho lido.
Acho louco chamarem o livro de romance, não tem romance nenhum aqui, é vai-e-vém frenético com cocaína, cerveja, pinga, puta, velhaca, polícia, caiçara. Eu achei muito bom. Natural. NA-TU-RAL. Acho que essa é a palavra e a grande dificuldade de achar um bom exemplar: é natural. Sabe o que parece? Um desses e-mails que os trutas mandam no Gmail no meio da tarde pra falar da noite.
Só que o e-mail tem 480 páginas, mano. Que ele mandou em anexo, óbvio.
Esperto esse Reinaldo.
Bruno Portella