Resenha do livro Anjos e Demônios de Dan Brown.
Esta é a primeira aventura de Robert Langdon, ‘detetive’ simbologista de Harvard criado por Dan Brown: uma perseguição nos arredores de Roma atrás de uma antiga sociedade secreta: os Iluminatti. Estes danados querem explodir o Vaticano bem no meio do Conclave, a eleição papal, e ainda matar alguns bons cardeais.
Minha relação com essa história é curiosa: vi primeiro o filme, logo quando lançou; recentemente (2009) li o livro e então vi o filme novamente.
Curioso por que já fui em cima do livro sabendo do principal plot-twist da história (embora não me lembrasse de NADA do resto), o que me deu segundos olhos para notar como Dan Brown carrega o leitor com uma certa destreza para que jamais percebamos as reais intenções deste personagem-chave – e também seus artifícios em te jogar as suspeitas para outros.
Ao livro então.
Dan Brown escreve fácil, sua narrativa é bem simples e qualquer ser humano alfabetizado consegue passar leve por sua pena; não exerce nenhum estilo, limitando-se ao básico e, portanto, não tem qualquer, ou nenhum, brilhantismo em desenvolver as motivações de seus personagens mais profundamente – embora tente colocar aqui e ali alguns pensamentos completamente descartáveis que chegam a dar vergonha. Certas passagens, ao invés de você desejar que Langdon cale a boca, você está rezando para que pare de pensar.
À primeira folhada, algumas situações são bem previsíveis (e algumas delas, ainda contam com um brilhante pensamento de Langdon, ou dos outros personagens, para que o autor tenha certeza que você que está lendo sacou a parada). E pode ter certeza de que isso vai ter de monte, é como se Dan Brown, ao final de cada capítulo aparecesse na sua frente, te desse a mão e te levasse até a descoberta de Langdon – no começo até vá, mas depois você já começa a se sentir meio Zina dentro da história (ele era famoso em 2009).
E, claro, o principal, a história. Esta sim está ali redonda – claro, sempre improvável e impossível, mas assim é a ficção e esse é o charme do livro. O livro inteiro compreende apenas um dia, e o autor é competente o suficiente para criar diversas situações diferentes para que esse dia seja o mais longo possível – e seu livro, com cada vez mais páginas. Vale-se do artifício da novela, por exemplo, cria núcleos de história que vão desde o núcleo do Vaticano até uma dupla de repórteres da BBC e os conecta de forma bastante interessante.
Langdon, capítulo à parte, é um professor que se vê perseguindo um assassino (literalmente) pelas igrejas de Roma. E Brown é inteligente o suficiente de não fazê-lo tornar-se do dia para o outro em um exímio caçador de bruxas – como uma pessoa normal, age por impulso, erra, se engana, se amedronta e é o que nos faz entrar de vez na história. Nos colocamos no lugar de Langdon, apenas sabemos muito menos que ele sobre Bernini (ou nada, no meu caso). Como no começo ele deseja acordar em sua cama longe daquele pesadelo e suas motivações vão evoluindo até fugir de um hospital para resgatar sua ‘amada’.
Em suma, é um livro de uma diversão garantida. A história segura toda a falta de ambição narrativa ou a imbecilidade aparente de alguns momentos dos personagens (que em outros momentos nos empolgam como em uma verdadeira novela bem feita). Justamente por que Dan Brown é daqueles que terminam cada capítulo pra que você não consiga resistir à vontade de pular no pescoço do próximo.
Se eu indicaria o livro? Não só indicaria como não teria hectoplasmas para emprestá-lo.
Bruno Portella, 2009