Pular para o conteúdo principal

Cloud Atlas

Seis histórias em seis épocas distintas com seis objetivos diferentes, mas em comum na sua essência – a grande busca, a jornada final. Cloud Atlas é mais ou menos isso, um trava-língua cinematográfico com uma grande mensagem no final: nossa vida não é exatamente nossa, mas sempre ligada a outras pessoas quase que por um determinismo já vivenciado ou ainda por acontecer – e a cena em que Isachs (Tom Hanks) sente um estranho amor à primeira vista por Luisa Reys (Halle Berry) parece explicar bem essa teoria, já que expõe esse determinismo de que os dois talvez sejam realmente conectados, mas não por eventos do passado e sim, nesse caso específico, por eventos num futuro muito distante.

Como se o tempo não fosse uma linha reta (e não é, de fato) embora sempre teimamos em ilustrar ‘linhas do tempo’, Cloud Atlas expõe com bastante eficácia o ponto de que o tempo apenas é – o passado, presente e o futuro acontecem ao mesmo tempo (assim como no filme, a montagem nos faz perceber isso com várias sutilezas: uma campainha ou um telefone que toca no futuro pra ser atendido por outro personagem no presente e assim por diante).


Longe de ser uma obra-prima do cinema, mas ainda muito mais longe de todo esse negativismo que tenho visto em torno do filme – eu tenho uma teoria: se você for ver o filme sozinho, talvez a experiência realmente não seja das melhores. Eu fui com dois amigos, e a experiência não foi apenas os 170 minutos de projeção, mas se extenderam pra mais de três horas de debates e conversas sobre as conexões do filme, sobre as mensagens, sobre a nossa própria vida. Essa é a experiência que o filme traz que não se encerra quando as cortinas descem.

E se estamos em uma época que se procura desesperadamente pela liberdade, nos convencermos de que somos donos do próprio umbigo, achei audacioso que o filme se proponha a uma mensagem, como eu disse, quase determinista, que se pelo menos não determina seu curso da vida, deixa claro que a mensagem é de que a nossa vida não pertence a nós unicamente, mas ela está também conectada a outras pessoas (por quais motivos, não interessam, mas estão). Isso nas palavras, de uma das principais personagens – que, não por coincidência é um clone genético.

O filme é muito instigante – como experiência cinematográfica, talvez falte um repeteco pra tentar captar todas as nuances (que devem existir aos milhões), todas as rimas temporais (como a pedrinha do casaco lá da segunda história que aparece quase como um detalhe na parte última). Mas eu acho que prefiro a arte quando ela se propõe a estender a experiência artística daquela obra não somente onde ela se encerra, mas pra dentro de nossas próprias vidas. Que seja pelo menos, pra cima da mesa da hamburgueria da Paulista – que foi o que aconteceu.

Pois foi o que valeu a pena. Que viagem. Ótimo filme, ótima novela.

Bruno Portella


Postagens mais visitadas deste blog

1Q84

Pediram pra eu ler. Quem pediu, tinha crédito por ter indicado outras coisas muito boas. Daí eu li. Também já tinha ouvido falar do livro, não lembro quando. Também já tinha visto a capa, não lembro onde. Tenho usado o Goodreads pra manter um acompanhamento dos livros que voltei a ler e o primeiro caso que criei foi que cadastrei ele como IQ84 e não 1Q84. É diferente. E eu realmente achei que fosse IQ, como se tivesse a ver com quoficiente de inteligência e não com uma data. Logo no começo do livro, entendi que se passava em 1984, então o primeiro mistério eu resolvi: era 1Q84, referente ao ano. Bastava prestar melhor atenção na capa. Mas essa bobagem foi o primeiro momento de abrir a boca e falar sozinho: a, tá! Burro, você pode pensar. Mas por mim tudo bem. Troquei o registro no Goodreads pensando que eu era mesmo burro. Daí voltei pro livro. Gosto de ler livros ouvindo música instrumental. Nesse caso, como era nos anos 80 e ambientado no Japão, eu procurei uma lista de músicas adequ...

De Bolsão à Montanha da Perdição [O Começo do Desafio Éowyn]

Preciso fazer exercício. Decidi caminhar. De Bolsão até a Montanha da Perdição, como fez Frodo e o herói Samwise. Aqui vai meu diário contando a minha quilometragem real com a de Frodo e seus amigos na Terra-Média, de acordo com o registro do Desafio Éowyn [ Link ] 5 de Maio de 2025 Bruno Aniversário do amor da minha vida. O céu estava com poucas nuvens. Voltei a trabalhar depois de um feeriadão (1 de Maio na quinta, que ganchei na sexta). Recebemos a família dela pela primeira vez em São Paulo. Foi lindo demais. Cansamos horrores. Hoje eu caminhei enquanto assistia dois episódios de Dragon Ball Z, o final da batalha contra o Kid Buu. Goku usou a Genki Dama para vencer.  Fiz 1.1 quilômetros caminhando bem tranquilo Pouquíssimo, claro. Mas pra quem nunca anda, estou feliz. Cenário do Filme Basicamente saí de Bolsão, dei a volta nele como fizeram Frodo e seus amigos, e passei por um portão em direção à uma rua ao Sul do Condado. E vamos até Mordor! Um dia eu chego. Não tenho tanta pr...

DARK

Jovens alemães, uma cidade no interior em que todo mundo se conhece, uma floresta; desaparecimentos de crianças e mistérios temporais. Um baita seriado envolvente, bom de-mais! Você pode achar, ahh, é um Stranger Things europeu; e vários elementos são realmente semelhantes, mas o jeito de contar a história, o envolvimento de tanto mais personagens dentro dos mistérios e o envolvimento no tempo, não só no mistério, mas na narrativa da série torna tudo muito diferente e curioso. Ao mesmo tempo... mexer com tempo sempre traz o problema dos paradoxos. Difícil uma obra mexer nesse vespeiro e ser perfeitinha. Mas ela se dedica tanto que, se há qualquer coisa fora de lugar, eu preciso pensar mais do que a primeira vista da série para encontrar algum problema. E nem vale a pena pensar nisso com tamanha qualidade de imagem, uma trilha sonora muito boa e um clima esquisito de uma série difícil de parar de ver. Mistério dos bons. Bruno Portella