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O Fantasma da Ópera — Gaston Leyroux

Finalmente terminei o livro.

Ele é fascinante. A história é excelente e o estilo de narrar do Gaston é muito intrigante — coisa do seu tempo, aquela coisa. Tá escrito na contra-capa que é gótico. É lindo. E como são estranhos os diálogos. Adoro como antigamente as pessoas se tratavam de forma muito diferente.

A história foge pouco da trama que já conhecemos (pelo musical, por exemplo), mas a ideia do Gaston de fazer como um relato fidedigno, feito um investigador recontando os eventos à partir de entrevistas com todos os envolvidos é maravilhosa.

O livro é uma leitura deliciosa que no seu arco final 'desvenda' muitos dos truques do Fantasma. Se a fantasmagoria é maravilhosa no lúdico da peça da Broadway, esse descortinar dos segredos do Fantasma do livro combina perfeitamente com o estilo do livro, então é simplesmente maravilhoso descobrir como ele fez tudo que fez.

A partir de agora eu me permito fazer uma relação entre obra original e o musical mais longevo da história.

A adaptação que o Andrew Lloyd Webber fez da história é absolutamente perfeita. Um exemplo perfeito de como transportar uma história de uma mídia e dentro de um gênero completamente distante (gótico) para um musical lúdico e espetaculoso.

Absolutamente tudo que existe no musical encontra eco em algum evento ou personagem que está no livro. A história principal está lá e eu OUSO dizer que o musical desenvolve melhor o drama da Christine na Broadway do que no livro. A Christine do livro é absolutamente fantástica, de fibra e opinião própria até certa cena na abóbada do Teatro (onde no musical eles cantam All I Ask of You), à partir dali, infelizmente a personagem perde muito seu brilho, de maneira quase inexplicável para mim, inclusive.

Ainda que tudo que exista no musical esteja no livro, é natural que nem tudo que está no livro esteja no musical, sejam eventos, tramas e até mesmo personagens.

E aqui eu abro um descontentamento: é absolutamente inexplicável que o Andrew Lloyd Webber que tão bem adaptou o livro tenha feito a sequência de seu musical ("Love Never Dies") em cima de uma fanfic sobre o futuro do trio em outro continente.

É absolutamente claro e evidente que a sequência (ou prequência) deveria ser focada no Persa do último arco do livro que não está em lugar algum do musical. Um personagem fabuloso que, em sua vez, era de certo modo obcecado pelo Fantasma (como o Fantasma era por Christine).

Seria uma excelente maneira de retratar o passado do Fantasma (da França ao Norte, do Norte à Pérsia, suas peripécias no Oriente Médio até sua empreitada na Ópera), sempre por meio da perspectiva do Persa. Porra, tá na caraaa: O PERSA DA ÓPERA. THE PERSIAN OF THE OPERA.

Eu tenho que fazer tudo, Andrew?

Uma linda história de amor entre o Persa e o Fantasma, que, assim como a adoração de Christine por Erik, pouco encontra material na obra original. O musical se sai muito bem em cantar esse trisal, que é mil vezes mais rancoroso, trágico e desgraçado no livro do que sugere o musical. Portanto não seria difícil adaptar o salvamento do Persa e sua procura pelo Fantasma também como certa paixão do homem por Erik.

Porra!

Enfim: lindo livro.


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