Pular para o conteúdo principal

Brasil 2018

Eu não entendo nada de política, mas às vezes penso. Desculpa o texto grande.

Hoje parece ser um dia histórico no país. Capítulo triste, ao meu ver, pois o país elegeu um fascistoide.

Sofro demais por todas as pessoas que estão com medo do que pode acontecer (e elas estão); não de graça, pois basta pegarmos o que ele e seus aliados tem DITO e DEFENDIDO durante toda sua candidatura. É duro.

Me parece que nos resta duas coisas a fazer agora: resistir e também torcer.

Torcer para que nossas instituições sejam robustas o suficientes para impedir que ele faça tudo que defende (e não tenho convicção disso), ou que a realidade o faça mudar muitas de suas ideias (o que desagradaria demais boa parte de seus votantes), coisa de que eu também acho improvável pois são 30 anos sendo exatamente o que ele é. Mas torçamos de todo modo, principalmente pelas instituições. Mas torcer depende de coisa além da gente.

E resistir. É aqui que nossas energias precisam estar. Isso não acabou hoje. A discussão vai continuar.

Pois parece que foi justamente a gente não conversar sobre política que nos trouxe nesse dia de hoje. Foi não escutar o que as pessoas estão falando e ficar fechado dentro das nossas narrativas próprias.

Então de agora em diante sinto que precisamos continuar falando. Compartilhando. Contestando. Buscando a verdade e as opções reais. Ouvindo também as agonias de quem tá do lado.

Vou tentar.

Resistir também será pra mim ser uma rocha para quem estiver com medo ao meu redor. Queimar nosso cosmo e resistir por elas e com elas.

Vou tentar.

Tentar também compreender como milhões de pessoas simplesmente desconsideraram discursos odiosos, falas fascistas, estratégias à base de mentiras e cinismo para votar em um candidato despreparado. Muitas são ruins mesmo, seres humanos horrorosos, isso existe. Mas quero crer que não são todos, e que há muitos nutridos de um sentimento fortíssimo. O antipetismo.

Não sei nada de política, mas tenho a impressão de que o PT fez por onde (corrupção profunda) para que houvesse uma fermentação pela mídia desse sentimento forte o suficiente para que as pessoas não ligassem que o candidato seja fascistoide, desde que seja uma alternativa forte ao PT.

E é importante observar isso. Observar que o PT fez muitos avanços no país, de fato, mas a que custo e de que forma? E não acho que seja apenas a larga escala de corrupção do partido (pois muitos outros partidos também são tão ou até mais sujos), mas sinto também que o PT criou uma narrativa de que eles estavam sempre certos e os outros foram sempre 'fascistas' (e agora quando surgiu um de verdade, ninguém deu bola).

O custo do modo que esses avanços foram feitos parece o dia de hoje. E teremos quatro anos (com sorte), para vermos se valeu a pena tudo isso ter sido assim ou não. Quando se fala em autocrítica, a mim, fico com essa impressão: de que o partido precisa voltar a ouvir o que as pessoas sentem e deixar de tentar impor narrativas porque acredita ser o certo. Sei lá, é impressão que eu tenho.

E finalmente, onde está a responsabilidade de cada um de nós de deixar que o país seja governado por um fascistoide? O que mais eu poderia ter feito pra ajudar o entorno? Eu poderia ter escutado, perguntado, compartilhado com mais consciência. Poderia ter mais consciência.

Virou presidente um homem despreparado com uma campanha na base do cinismo, do ódio, da divisão, na base de mentiras, pois valia tudo contra o que elegeram de ameaça. Seus defensores dirão: o PT faz igual.

Foda-se, talvez seja mentira; e ainda que fosse verdade, tornaram-se tão podres quanto, achando-se muito melhores.

Eu vou tentar ser melhor que tudo isso e encontrar alternativas para essa distopia toda.

Mas eu num sei de nada.

Postagens mais visitadas deste blog

1Q84

Pediram pra eu ler. Quem pediu, tinha crédito por ter indicado outras coisas muito boas. Daí eu li. Também já tinha ouvido falar do livro, não lembro quando. Também já tinha visto a capa, não lembro onde. Tenho usado o Goodreads pra manter um acompanhamento dos livros que voltei a ler e o primeiro caso que criei foi que cadastrei ele como IQ84 e não 1Q84. É diferente. E eu realmente achei que fosse IQ, como se tivesse a ver com quoficiente de inteligência e não com uma data. Logo no começo do livro, entendi que se passava em 1984, então o primeiro mistério eu resolvi: era 1Q84, referente ao ano. Bastava prestar melhor atenção na capa. Mas essa bobagem foi o primeiro momento de abrir a boca e falar sozinho: a, tá! Burro, você pode pensar. Mas por mim tudo bem. Troquei o registro no Goodreads pensando que eu era mesmo burro. Daí voltei pro livro. Gosto de ler livros ouvindo música instrumental. Nesse caso, como era nos anos 80 e ambientado no Japão, eu procurei uma lista de músicas adequ...

De Bolsão à Montanha da Perdição [O Começo do Desafio Éowyn]

Preciso fazer exercício. Decidi caminhar. De Bolsão até a Montanha da Perdição, como fez Frodo e o herói Samwise. Aqui vai meu diário contando a minha quilometragem real com a de Frodo e seus amigos na Terra-Média, de acordo com o registro do Desafio Éowyn [ Link ] 5 de Maio de 2025 Bruno Aniversário do amor da minha vida. O céu estava com poucas nuvens. Voltei a trabalhar depois de um feeriadão (1 de Maio na quinta, que ganchei na sexta). Recebemos a família dela pela primeira vez em São Paulo. Foi lindo demais. Cansamos horrores. Hoje eu caminhei enquanto assistia dois episódios de Dragon Ball Z, o final da batalha contra o Kid Buu. Goku usou a Genki Dama para vencer.  Fiz 1.1 quilômetros caminhando bem tranquilo Pouquíssimo, claro. Mas pra quem nunca anda, estou feliz. Cenário do Filme Basicamente saí de Bolsão, dei a volta nele como fizeram Frodo e seus amigos, e passei por um portão em direção à uma rua ao Sul do Condado. E vamos até Mordor! Um dia eu chego. Não tenho tanta pr...

Onze Anos Depois: Voltei

Depois de onze anos (aproximadamente), sinto que finalmente voltei a ler livros . Eu costumava dizer que Em Busca do Tempo Perdido , do Proust, me traumatizou ao ponto de eu nunca mais ler direito. Antes disso, eu lia muito. Pelo menos para os meus próprios padrões, estava sempre com um livro, uma página tosca fazendo anotações. Lia no ônibus, nas paradas de ônibus, às vezes na rua, parava em Centros Culturais ou cafés para ler, interrompia alguns almoços pra dar uma olhada e até perdia a hora de sono enquanto lia alguma coisa. Depois do Proust, nunca mais. E colocava a culpa no Proust. Onze anos depois, percebo que não foi só culpa do francês. A verdade é que eu gastei onze anos da minha vida lendo o Twitter. E isso ocupou minha mente mais do que deveria, assim como talvez tenha alimentado a vontade de ler que habitava em minha mente. Até então eu a saciava com livros, a partir ali de 2011, sinto que alimentei essa vontade com micro-textos pretensiosos na rede. Uma tragédia. Eu sei, h...