Sou fã longevo de John McClane, o tough guy dos filmes de Duro de Matar – Bruce Willis no seu estado mais puro e um dos melhores papéis de um tira chuta-bundas nessa maravilha de cinema. Muita gente gosta, principalmente os que adoram umas explosões, perseguições, tiros, sangue, diálogos modafócas e toda sorte de situações impossíveis – onde, basicamente, o duro de matar, obviamente, nunca morre e se safa de maneiras cada vez mais incríveis.
Mas uma das coisas mais curiosas de Die Hard é que três, dos quatro filmes que foram lançados até agora da franquia, são baseados em publicações literárias (e você ainda acha que tem coisa original sendo feita no cinema); mais curioso ainda é notar que, na verdade, os livros não são exatamente sobre a franquia, nem utilizam do personagem McClane, muito pelo contrário, são romances de ação e thriller que passam longe do mundo vivido pelo detetive nova-iorquino e que, a bel prazer de roteiristas, acabam virando histórias em torno do personagem de Bruce Willies. Algo assim: poxa, que livro bacana esse aqui hein? Agora imagine o John McClane no papel principal. E isso é muito, mas muito comum em filmes por alá.
E foi assim, que três dos filmes foram feitos. =D Veja abaixo uno-por-uno:
Duro de Matar – 1988
Nothing Last Forever
O primeiro filme da franquia, comumente o mais idolatrado pela turma do ‘duro de matar moleque’, é, claro que é, sensacional. Do começo ao fim. Dos diálogos às ações. Ao desenvolvimento aos efeitos. Do protagonista ao antagonista. Se marca o início da carreira de Willis nas explosões do cinema (antes ele fazia Gato e o Rato, uma co-média), ele marca o dueto de Willis (foda) com o primeiro Gruber da série, um insirado Alan Rickman (para os xovens: ele fez o Snape em Harry Potter) que, como variaria, é genial como vilão. O ataque ao prédio corporativo Nakatomi Plaza em Los Angeles, debuta a série.
Mas a ideia veio de um livro: ‘Nothing Last Forever‘ (ou nada dura para sempre, em tradução tupinica) foi escrito por Roderick Thorp e lançado em 1979, em sequência ao seu super-vendido The Detective (de 1966) que, curiosamente foi adaptado para os cinemas em 1968 com nada mais nada menos que Frank Sinatra no papel principal (já imaginaram Frank Sinatra no papel de John McClane?). A adaptação para os cinemas era para ser feito, primeiramente, como uma sequência do filme Comando com Arnold Shwarzenegger (mais uma vez, imaginem o governator no papel de McClane), mas o homem recusou o papel e a história virou, para todos os ótimos efeitos, Die Hard. E assim começou a franquia.
Basicamente o filme é uma ótima transcrição do filme, mantendo diálogos e até o nome de alguns personagens (como Gennero, mulher de McClane que, no livro é sua filha Gennaro, e o antagonista Gruber, que não é Hans, mas Tony, Little Tony).
Thorp ainda teria dois outros livros seus adaptados, mas agora apenas para filmes para a televisão: Rainbow Drive, de 1990 com Peter Weller (que fez Naked Lunch, também) e Devlin, em 1992.
Duro de Matar 2 – 1990
O segundo filme traz John McClane no aeroporto esperando sua mulher (Holly Gennero) chegar de viagem para curtirem o Natal. Mas, olha só, é justamente nesse dia que terroristas escolhem para tocar o terror no aeroporto de Nova Iorque cortando a energia do aeroporto e toda forma de comunicação para com os aviões no céu. Tudo para resgatar um porto riquenho endinheirado. A consequência é simples: os aviões no céu, programados para pousar no aeroporto ficarão sem combustíveis e haverão catástrofes gigantescas se não forem atendidos em suas barganhas.
O filme foi baseado no romance ’58 minutes’ escrito por Walter Wager (nem tão bom assim quando Thorp) em que a ideia é basicamente a mesma, mas difere um pouquinho – como diz o título, o protagonista tem 58 minutos para fazer algo antes que o avião de sua mulher caia por falta de combustível, enquanto McClane dispõe de, pelo menos uma hora e meia de película (hehe). Também difere o protagonista, no livro temos um loirinho bombadinho, almofadinhas, quarterback perfeitinho, e um tira da melhor estirpe caçando terroristas (que nunca tem chance alguma contra ele), este tal que é substituído por McClane, o cara errado, no lugar errado, na hora errada e que sempre acaba o filme jorrando sangue (e beijando sua mulher que lhe confessa, ‘amor, por que isso sempre acontece com a gente?’ lembrando o capítulo anterior da franquia).
Duro de Matar 4 – 2007
Um John McClane divorciado, com filhos que mal falam com ele, cuja função na polícia já não é tão grandiosa, careca e desiludido (em certa cena, pergunta-se ‘de que adiantou ser um herói?’). É esse McClane que inicia o filme espionando sua filha e ensinando uma lição a um jovem rapaz que tenta bolinar com ela, e logo se vê envolvido em uma trama que foge completamente da sua especialidade em terroristas armados até os dentes. A trama está ao redor de um ataque terrorista basicamente virtual em que, somente com a internet, um homem obstinado e inteligente consegue trazer o caos para os EUA inteiro.
Baseado no mega artigo ‘A Farewell to Arms’ escrito por John Carlin na revista Wired em 1997, que descreve basicamente o que acontece no filme: um cyber-terrorista decide aplicar o chamado ‘fire sale’, um ataque sistemático em três fases que derruba os transportes, as telecomunicações, as finanças e os sistemas de infraestrutura de um país – simplesmente para tocar o caos e alarmar as autoridades para quão frágil é a segurança de um país. O artigo foi como se fosse um alerta aos perigos da internê (ora, vá) e como as armas podem nem ser tão importantes em um ataque terrorista – mais de dez anos depois, ainda não tivemos situação semelhante ao filme, graças.
Portanto vejam, apenas o ótimo Duro de Matar: A Vingança (que tem o genial Samuel L. Jackson como um negro racista) não teve sua história baseada em alguma publicação ou livro. É de se parabenizar, uma vez que, tirando o primeiro filme, é pra mim o melhor da franquia com seu teor extremamente alarmante em uma Nova Iorque tomada pelo terror de bombas (ah, as velhas bombas). O roteiro consegue trazer para McClane esse tom de desespero que lhe faltou no segundo e no quarto filme e que era a grande marca do primeiro filme – em que ele é um policial improvisando meios de fazer existir alguma esperança para determinadas situações.
Não somente competente quanto a isso, o roteiro ainda deixa em estado de permanente tensão o espectador principalmente por conta dos enigmas bolados por Simon Gruber apenas para foder com o protagonista e sua dupla dinâmica (so many fucks) sob pena de mais mortes caso não resolvam – além de trazer um ótimo Jeremy Irons como o irmão mais novo de Hans Gruber (o Snape do primeiro filme).
Mesmo os filmes que você mal imagina dentro de um livro (onde o som de explosões e tiros inexistem) às vezes te surpreendem ganhando vida somente por conta de alguma publicação.
E vem aí o Duro de Matar 5 (A good day to die hard), com estreia prevista para 2013, em que McClane vai para a Rússia (oi, anos oitenta) resgatar o seu filho da prisão. E eu que gostei tanto da durona Lucy McClane queria muito que ela virasse um dueto do pai em algum filme, mas talvez nos próximos quando ela estiver mais velha.
Yippie-Ki-Yay, mother fucker!
Bruno Portella