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Troy Denning e Suas Páginas da Dor

A literatura de RPG. Coisa batida, mas sempre interessante, emocionante, fantasiosa, criativa. Me parece que todos os textos de RPG são feitos pelo mesmo cara que adora uma descrição minuciosa, comparativos, batalhas épicas, inglês corretinho, muito sangue, descrição de cada golpe desferido. É uma diversão à parte.

Eu nunca tinha lido, a bem da verdade, um livro de RPG – desses de histórias baseadas em algum mundo conhecido (como Forgotten Realms, Dragon Lance e etc.), portanto Pages of Pain, de Troy Denning foi minha primeira experiência – eu já estava acostumado com essa eloquência de tanto jogar os jogos de RPG, daí vem o meu ‘profundo’ conhecimento dessa literatura sã.


Baseado no incrível mundo de Planescape (uma das ambientações mais ricas e diferenciadas nesse mundo do RPG), o livro conta a história de um herói amnesíaco que aporta na cidade de Sigil (o centro do multiverso) para entregar à governanta dessa cidade uma ânfora dos deuses pois, em caso de sucesso, suas memórias poderiam ser recuperadas pelo remetente. E assim, o forasteiro chegando de um plano muito mais superior onde suas glórias são cantadas e reconhecidas, depara-se com uma sociedade completamente devassa e, pior, alheia aos seus feitos e pouco enlevada por seu visual limpo.

A grande questão da dificuldade do herói, é que a governanta da cidade (a tal Lady of Pain) não é simplesmente alcançável através de uma audiência, muito menos para receber um emissário dos deuses, criaturas que ela faz questão de manter longe do seu convívio e de sua cidade. Então a tarefa não era menos que impossível. E no trâmite de buscar essa audiência com essa senhora das dores, o aventureiro se vê em contato com outros personagens que integram a sua comitiva – e caindo no pior pesadelo para os habitantes de Sigil: em um labirinto inescapável.

E a maior parte do livro se dá em que o herói busca uma saída quase impossível desse labirinto, embarcando em uma jornada atrás daquilo que o empurra adiante e enfrentando dilemas sobre sua vida e sua personalidade. E é no detalhamento e na construção do ambiente desse labirinto, que a pena de Denning sobressai de maneira incrível, já que não precisa somente recriar os personagens, mas também deixar claro e evidente para o leitor qual a natureza desse labirinto, o seu ambiente e como os protagonistas influenciam para que ele mude – sem essa precisão, o livro que se passa praticamente inteiro no labirinto, não funcionaria jamais.

É um livro muito divertido, em que se divertirá melhor quem gosta de RPG e irá se encantar ainda mais quem já gosta de Planescape. Boa literatura, embora super nicho do nicho.

Acho uma pena apenas que as pessoas não conhecem muito de Planescape, de RPG eu até compreendo, mas Planescape tem conceitos simplesmente maravilhosos para a vida, garotada.

Bruno Portella

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