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Renegado: Serafim Ponte Grande

Sobre Serafim Ponte Grande, Oswald de Andrade – 1933

(Panorama histórico: fim da era Proustiana, começo do libertário período de ócio. 2011. Segundo semestre.)

Acabo com Proust. Tiro as algemas. Estaco no peito. Estanco o tormento.

Pego o primeiro fino que eu vejo na pilha: Serafim Ponte-Grande (assinalado como renegado pelo próprio autor), nome de anjo, composto, original. Oswaldo Andrada, du brasil. Lembro das relações com o Mario (que lembro só por causa do sobrenome). Semana da Arte Moderna, São Paulo mutcho loka em 22. Parecia uma escolha linda recomeçar a vida de leituras por um modernista tupiniquim, ora porra!


Pulei trinta páginas de prefácio, um porre, e fui direto na jugular de Serafim Ponte Grande: sobre a vida do personagem-título, ponto. Ponto e vírgula. Um repartição bona-praça, brasileiro malformado, entregue no casamento, repreendido de tudo que é desejo – até que separa. Um antes e depois.

E foi chocante sair de um romancista francês alinhadinho no processo narrativo – coisinha por coisinha, bloco de narração, falas raras com travessões, tudo lindo e pontuadinho. Tão almofadinhas quanto o conteúdo. Aí vem Oswaldo e fode com tudo. Cada trecho num estilo diferente, ora tergiversa, depois polemiza, aí então dialoga, lista nomes, narra com ironia, come umas putas da República, apaixona-se por outras do velho continente. Cada trecho uma surpresa diferente – tanto para a história como para o texto.

Oswald por Anita
O bicho desconstroe o formato tradicional do romance e faz um negócio novo. Ainda novo. E ele escreveu de 33 pra trás. E ainda parece novo.

Serafim é um cara de repartição, tem lá suas obrigações no trabalho, dentro da família, para com a mulher, para com os compadres de trabalho. E como todo fodido, enfrenta problemas em todas esferas. E como todo bom brasileiro, tem a putaria no sangue (nem vem me encher o saco com estereótipos nacionalistas, somos tropicais e cheio de gingado, sim senhor). Sobre a mulher, que erro!, o autor confessa: “tomada por engano de sensualismo num sofá da adolescência”. E o livro abre no diálogo curioso justamente entre a filha, o protagonista, os pais da menina e um delegado sobre o caso.

E daí vai adiante, personagem por personagem, amores por amores.

O livro se lê numa bundada como se diz, é extremamente ágil e recomendado para suceder qualquer tipo de leitura. Das piores até as mais incríveis, Serafim Ponte-Grande conseguirá surpreender pela originalidade, pelo humor do autor, pelos elefantes que caem do segundo andar e principalmente pela facilidade da pena. É isso. Simples, bem humorado, diferente. Um livro a se indicar. E está indicado.

“O homem é um microcosmo! Por assim dizer, um resumo da terra e como tal é guiado por leis imutáveis e eternas. Estou de acordo com essas ideias provadas pela ciência. Porém, há as erupções, há os cataclismos!”

Verdade maior, não há de ser dita. Foi lá pelas tantas do começo. Ótimo.

Bruno Portella

Obs.: Foto de uma montagem chamada ‘A volta de Serafim Ponte Grande’, da companhia Ariel Moshe

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