Peguei muito sem querer esse exemplar dos anos oitenta do analista de Bagé, obra do Veríssimo, gaúcho louco. Tenho poucos amigos gaúchos, o que é ótimo, e menos ainda apreciadores da gauderice, tanto melhor. Digo isso por que posso ficar livre dessa influência toda (e eles são muito influentes) para apreciar com graça e surpresa um exemplar gauche de literatura – sabe, esses gaúchos, tudo contra, são muito gauches, aí acaba te viciando, e você pode perder o gosto supreso de um bom Veríssimo, será que não?
O livro é uma coletânea de atendimentos desse analista do interiorano gaúcho com outros causos que o autor destilou pelos jornais sulistas afora. E o humor é a tona da coletânea, de forma que os contos são sempre simplão e virados pro humor, assim de levinho, rasteirinho, nada muito bundalelê. E me desculpa os fãs do autor se eu deixei passar alguma análise social na comédia de Veríssimo, mas tudo que fiz foi rir (às vezes) e respirar o riso pra fora, aquele riso menor, mas ainda divertido.
“Certas cidades não conseguem se livrar da reputação injusta que, por algumas razão adquiriram. Algumas pessoas mais sensíveis e menos grossas que eu conheço vem de Bagé, no Rio Grande do Sul, assim como algumas das menos afetadas são de Pelotas.”
É por aí, no humor engraçadinho que o analista de Bagé é, de fato, um psiquiatra (nunca sei) de modos retos, um seco, bicho grosso, direto no ponto, sem paciência pro lenga-lenga e extremamente apegado ao seu pelego. Suas histórias aparecem em intervalos irregulares entrecortados, por exemplo, pela divertidíssima partida interminável de pôquer, por alguns contos que são uma merda (e nem faço questão de lembrar) e outros realmente ótimos, como o Brincadeira, que aparece logo no começo – puro gênio – que começa com uma simples brincadeira: eu sei de tudo. Quem nunca?
Ou Sfot poc, em que Verísimo brinca com a linguagem, e ainda brincando com a linguagem o fenomenal Palavreado e Mais palavreado, que ele faz trocar tudo dentro do conto e continua interessante. Eu indico, pra quem estiver em uma entre-safra, ou querendo um amor de verão rapideis: a leitura é breve, e isso que é bom em coletânea, a leveza.
Indico Veríssimo! Esse, pelo menos.
Bruno Portella