Jean Valjean, personagem de Hugh Jackman invade a corte em determinado momento do filme – louco pra se pregar num crime do passado, um réu confesso e determinado. O meirinho pergunta pra ele: acalme senhor, você está bem? Na minha cabeça, veio direto: não! eu não consigo parar de cantar!
E não consegue.
Faço de cara o mea-culpa e altas exonerações: não sou versado na cultura pop – mal sabia que fui ver um musical até dez minutos antes de começar o filme; eu, que adoro musicais – esse tom heróico, retumbante e irreal das canções – acho absolutamente lindíssimo, sempre.
Mas pra mim Miseráveis seria uma história francesa sobre a Revolução (não aquela famosa) – e foi, em partes. Pequenas partes. É a história de um escravo sempre em fuga, cujas circunstâncias o leva a cuidar da filha de uma Nas demais, foi uma cantoria desvairada (o que mais me incomodava é a linearidade da canção, repetição e uma certa falta de ritmo (eu que não sei nem escala de nada). Não bateu bem nos ouvidos, o que não significa que desgostei.
Por que os momentos de músicas reais – aqueles epopéicos e edificantes são absolutamente maravilhosos. Fantine (Hathaway linda) fazendo o solo de Susan Boyle enquanto chorava é de uma beleza pra dar o Oscar pra ela – ela tá no páreo? Mesmo o gladiador Jarvat canta desesperamente grave no alto de um prédio numa das melhores cenas das três horas de filme.
A história mesmo é muito boa entre Jean e seu nêmesis Jarvat, mas perde muita força no casal Cosette e Marius (que são chaaaatos) e não eram empatia nenhuma – é injusto comparar a relação de Jean e Jarvat com mais de 30 anos entre escravidão e caça com um amor à primeira vista tão insosso.
Uma pena.
No mais, o filme é realmente muito, mas muito bonito. Vale a pena ver (e tirar todas as suas resistência à cantoria, pois aqui a sua paciência será posta a prova).
Uma história de redenção de um homem que luta desesperadamente para fugir de seu destino enquanto ainda não acredita ter se redimido por completo – ou simplesmente feito o bem o suficiente.
Me deu muita vontade de ver o musical da Broadway. Quem sabe.
Bruno Portella
A música da cena que vale o Oscar para Anne.