Terminei o calhamaço da Martin Claret dos Irmãos Karamazov (uma amiga, bruxa, disse que a versão era muito ruim – não sou assim versado pra notar qualquer problema).
Afinais, Irmãos Karamazov de Fiódor Dostoiévski – mas que livro delicioso, tenso, vermelho, gélido, russo. Gostei muito de Dostoiévski nas duas leituras de Crime e Castigo (que eu continuo achando absolutamente sensacional – lembro perfeitamente como eu quase me sentia doentio feito Raskolnikov se remoendo com o crime e com a paranoia). Neste me identifiquei bastante com o iconoclasta Ivã Fiodórovitch (ou Karamazov) entre a faca e o queijo do crime máximo do romance, e os diversos cheques que sua mente descrente lhe propõe aos debates.
Os irmãos Karamazov – Liagávi ~ André Luis |
Mas ao livro, pois o livro conta a história de um pai e de seus filhos distantes – um de cada momento de sua vida ‘sensual‘ (como descrita pelos vilões da pequena cidade russa) e, portanto, distantes entre si no começo. O retorno dos filhos à casa do pai desencadeia uma série de eventos semeadas de discórdia, paixões, ciúmes doentios e, finalmente: o crime. O crime que é a bomba atômica do livro – onde toda consequência é como o cogumelo ascendendo ao céu e varrendo tudo ao redor conforme avança.
Fiódor Fiodórovitch é o pai dessa família sem mãe, entregue à bebida, às mulheres e às cenas teatrais em todos os lugares – pai de Dmitri, o rival; Ivã, o iconoclasta ateu e Alíocha, o jovem correto da família, o anjo. O homem perfeito de Dostoievski.
Foda. Simplesmente incrível.
A relação do pai com cada um dos filhos é absolutamente diferente, e o livro parece ser conduzido muito do ponto de vista de um observador daquela trama, que em nenhum momento interfere na história, mas que também é muito focado em Alíocha (Aliéksiei) que é o filho mais jovem, mais cândido, perfeitinho, o anjo, cuja opinião é cara a todos os irmãos e também ao pai – que mal o compreende, mas o respeita.
Desde antes a narrativa tensa e descritiva de Dostoiévski sempre me encantou. Escreve com muita habilidade a profundidade de todas as reações e todos os corações envolvidos nos diversos triângulos sentimentais que compõem o suposto parricídio.
Imperdível. Aos poucos eu já posso ir dizendo que prefiro a literatura russa à francesa – os russos são demais. Tenho um Tolstói e um Gógol aqui esperando – toda essa aventura Dostoivskiana me faz sentir uma diferente emoção antes de começar.
Deixarei os Irmãos Karamazov e parto pra outra. Grande livro!
Bruno Portella