(Texto resgatado)
Poesia e Prosa Selecionadas – William Blake [Edição Bilíngue / Tradução e Posfácio de Paulo Vizioli]
Não sou um homem feito para a poesia. Tenho medo sempre de dizer que não gosto de poesia por soar genérico, mas na grande maioria das vezes eu realmente não gosto; os versos não me tocam, não me balançam e muitas vezes eu nem entendo o que o poema quer dizer – existe essa corrente de poetas que escrevem coisas desconexas e as pessoas adoram, particularmente não consigo compreender a adoração.
Se me perguntam de um bom poeta que eu goste, eu diria aqueles que eu conheço: Ana Vercesi, que escrevia no finado Sanduba, ou Ninil que conheci em uma oficina; se me pedissem para citar qualquer outro que não conhecesse, não saberia indicar – talvez Gil Vicente, e já nem sei se o homem fazia poema, de qualquer forma é ele quem eu indicaria. Talvez alguma coisinha de Poe e pronto.
Dou este petardo inicial sobre meu desinteresse à poesia justamente por que me foi emprestado um livro de William Blake. Não um propriamente original, mas uma compilação de alguns, do que imagino ser, seus melhores versos.
Vieram de mãos impossíveis de recusar qualquer oferenda; e se essas mãos me oferecem poesia, não posso negar a leitura apenas pelo que eu acho ser uma grande tolice, e assim o fiz. Me diverti com a compilação do poeta inglês mas, ao final, fiquei com a certeza de que se não houvessem ali também os originais eu simplesmente acharia que teria perdido uma semana da minha vida.
O grande atrativo da compilação é ter as versões inglesas dos poemas ao lado das traduzidas – é impressionante como a tradução mata o poema, o faz perder completamente a sua força, mas é impossível culpar o tradutor já que este é um trabalho ingrato. De qualquer forma, poucos foram os poemas que, mesmo em inglês, me despertaram um interesse maior do que a nostalgia da leitura de um bretão declamado.
A pena de Blake é carregada demais com preces religiosas e de odes à elementos da mesma ordem, que acabam me desagradando por natureza. Mas não tem como negar que há boas passagens e ótimos versos, no entanto. Um em particular, me chamou a atenção:
“A truth told with bad intentBeats all the lies you can invent”
Retirado de seu poema AUGURIES OF INNOCENCE (ou Augúrios da Inocência, na tradução) que, inclusive, está incompleto na compilação (achei um absurdo). Os poemas sobre os limpadores de chaminés THE CHIMNEY SWEEPERS e o THE POISON TREE também são ótimos – e se tiverem passagens religiosas, eu não percebi em momento algum.
No final, relendo os títulos e algumas passagens, os melhores momentos era vivenciar o inglês de sua época e de perceber como soa bem a língua para poemas (como para canções), ao mesmo tempo que me fascina o trabalho de tradução (neste caso, eu não diria malfeita, mas ingrata com seu patrono). São raros os poemas que encontram em sua tradução uma força de igual vibração ao original.
É isso. A poesia realmente não está para mim como está a prosa. Eu diria infelizmente, pois é tão clássico e belo gostar de poesia, mas ao mesmo tempo não sinto tanta falta dela e, Ninil me disse certa vez, embora eu não goste de poesia há muita poesia naquilo que escrevo. E me contento com isso.
Outra curiosidade é a mosca morta na contra-capa do livro, terrivelmente amassada contra as páginas. É como diz o Eclesiastes (acho que é por lá que dizem), uma mosca morta pode empestiar todo um frasco de perfume – não sei a relação com essa publicação, espero apenas que este defunto de inseto no fundo do livro não tenha influenciado no sabor de seu líquido.
Ps.: Dando uma lida em alguns pontos da internet sobre o autor, vi que ele criou cosmogonias novas e influência a ficção que viria no futuro – citam até Phillip Pulmann do maravilhoso His Dark Materials, mas não vi nada de tão legal assim na compilação me emprestada. Uma pena.
Bruno Portella, Agosto de 2009