O Caso da Borboleta Atíria é desses clássicos infanto-juvenis da linda e terna Coleção Vaga-Lumes, que me parece ter embalado a imaginação de muito petiz que hoje parelha a minha idade. Narra a desventurade uma borboleta, Atíria, que nasce com uma asinha defeituosa – que a faz ter severas dificuldades para voar, o que também a torna extremamente querida pelas demais criaturas da floresta (esse velho chavão delicioso da gentileza para com os deficientes, tão irreal, quanto saboroso na ficção).
Não somente um nasce, vive e morre da insetinha. Mas Lúcia Machado de Almeida (que a floresta a tenha) usa a gracinha central como um vórtice para todo um mistério que começa a abalar as cercanias da floresta: um curioso e temível assassino serial de borboletas. Lembro bem (falo como se escrevesse sobre a minha leitura de 96, mas a bem da verdade reli não faz nem um ano o ótimo livrinho =), dizia eu que lembro bem, de como os mistérios desenvolvem em Atíria um espírito de perigosa aventura, um misto de princesa desavisada com a deficiente justiceira – a teoricamente vítima tornando-se a heroína da história.
Mas passando longe do peito estufado, dos brados, apenas se valendo da vontade quase adolescente de resolver a situação. Atíria é dessas.
A leitura é mansa de tudo, o gosto é doce e saboroso. Dá pra ir tranquilo! Se não me engano, naquele acesso de loucura, doei meu livro a torto e a tuíter para alguém.
Entre outros clássicos jovens aí da Vaga-Lume esse talvez seja um dos mais bobinhos, mas um dos melhores. Nas mãos da Disney ou de Pixar, por exemplo, daria um filme poético e maravilhoso (e vejo os temas de Lúcia Machado, tratados na década de 70, serem resgatados pelas gigantes em filmes como Vida de Inseto e mesmo Procurando Nemo). Curioso ver essa relação, e como a autora já vislumbrava temas que nos encantaram recentemente tantos anos atrás.
Se está aqui, está indicado. Eu costumo falar de Proust, de Kafka, desses vislumbrados autores, de bustos por aí, reservo com muito maior alegria eu diria pra indicar esse que foi um dos livros que me fizeram começar a gostar muito dessa história de ler. E de escrever. E de viver. E de sonhar com livro aberto.
Avante, borboletas atírias!
Bruno Portella