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As Aventuras de Pi

Depois de Momento de Impacto, às noitinhas, fui conferir o tresdê elogiado das Aventuras de Pi, esse indiano muito louco.

Pi, de Piscine (piscina), que vira Piscin (urina) na escola e finalmente escolhe pra si Pi (3,14).

Pi: um indiano crescido no zoológico do pai, que decide ir para a América vendendo os animais todos para recomeçar sua vida – mas um desastre no navio põe Pi e alguns dos animais no transporte à deriva para sobreviver.


O filme é belíssimo, de imagens absolutamente lindas. O tresdê é sutil, mas fazem uma diferença enorme, principalmente nas calmarias do mar que o diretor transforma o oceano em um espelho do céu. Toda a saga do garoto em alto mar é de uma beleza e um encanto muito forte, você se identifica tão rapidamente com o menino que fica fácil sofrer seus terrores da sobreviência. Temo eu apenas que o ato final, apostando em uma alegoria que busca tornar-nos a todos mais crentes por esse Deus do protagonista é que dá uma azedada no ar – principalmente quando você é ateu, né.

Mas acredito que mesmo eu consegui sair feliz do filme, pois cada pessoa, tenha ela religião ou não, pode encontrar significados que ela vai preferir àquele original – e certamente cada pessoa que fizer isso, terá um final muito melhor que o próprio filme, o que torna a experiência inteira muito bem vinda.

**SPOILERS**

Não vou falar diretamente de cada coisa, mas o filme é cheio de significados, que de repente pedem uma segunda sessão. Eu gosto disso, mas nessas Aventuras, eu gostei mais da ideia que eu fiquei quando ele se encerrou por ele mesmo no final da projeção. Embora claramente o filme atue no seu ato final com uma forte ideia de fé e alegorias do Deus cristão; enquanto ateu, não me comovo com esse subterfúgio religioso. Acho inclusive, que ele seria muito maior não fosse essa pregação tão tola no fim do filme – que passa batido durante a projeção inteira, onde o próprio Pi, num desespero de se identificar com qualquer coisa na criancice, não se limita a ser um hindu de criação, mas procura o islã e até mesmo a comunhão de cristo em determinado momento que seu próprio pai zomba dessa falta de foco religioso em seu caminho.

Gosto do filme enquanto um filme de sobrevivência fantástico de um menino que, enclausurado por eventos em alto mar, toma para si uma realidade muito mais atraente que o torna capaz de sobreviver e conviver consigo mesmo – e com todas as suas contradições e testes humanos a que é exposto.

É natural que um menino, de repente para afastar a crueza de uma realidade selvagem, torne seus pares em animais em sua cabeça para que tudo aquilo faça um pouco mais de sentido – pois são animais que comem uns aos outros. E se ele passa a projeção inteira falando consigo mesmo, não é a primeira vez que um filme náufrago nos expõe essa necessidade de sobrevivência do homem de ter alguém do lado para poder sobreviver – em certo momento, Pi agradece Richard Parker, pois sem ele jamais teria sobrevivido. Assim como Tom Hanks e a bola Wilson.

Eu não preciso de Deus, Budha, ou quem seja para entender que o homem, esse sim, criará para si o que for preciso para sobreviver, seja a arte que for, a expressão que for – e no caso de Pi, ainda que toda sua aventura seja uma alegoria que tenha criado para torná-la mais palatável, é natural que ela sempre será a melhor história. O que não me torna crente de nada, senão do próprio homem. De Pi.

=D

Bruno Portella

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